A teoria do desenvolvimento que, na década de 50 do século passado, apoiou o projeto político-econômico do governo de Juscelino
Kubitschek (JK), quando analisada do ponto de vista dos contrastes dos dois brasis, indicados no texto, revela que
Ao retornar para Lisboa, em abril de 1821, o rei D.
João VI deixou para trás dois brasis inteiramente
diferentes. De um lado, havia um país
transformado pela permanência da corte nos
trópicos, já com os pés firmes no turbulento século
XIX, bem informado das novidades que
redesenhavam o mundo na época e às voltas com
dilemas muito semelhantes aos conflitos que
agitavam a nascente opinião pública na Europa e
nos Estados Unidos. Esse era um Brasil muito
pequeno, de apenas alguns milhares de pessoas,
que tinha seu epicentro no Rio de Janeiro, o
modesto vilarejo colonial de 1807 convertido numa
cidade com traços e refinamentos de capital
europeia nos 13 anos seguintes. De outro lado,
modorrava um território vasto, isolado e ignorante,
não muito diferente do lugar selvagem e
escassamente povoado que Pedro Álvares Cabral
havia encontrado trezentos anos antes ao aportar
na Bahia. Esses dois brasis conviviam de forma
precária e se ignoravam mutuamente. (GOMES,
2010, p.69).
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa B
Tema central: desenvolvimentismo dos anos 1950 e sua relação com as profundas desigualdades regionais do Brasil — os “dois brasis” (um modernizado e concentrado no Rio; outro rural, vasto e atrasado).
Resumo teórico: A teoria do desenvolvimento que orientou o governo Juscelino Kubitschek (Plano de Metas, 1956-1961) defendia industrialização rápida por meio do investimento público e atração de capitais. Contudo, autores clássicos como Celso Furtado destacaram que a persistência de estruturas socioeconômicas coloniais (latifúndio, concentração de renda, fraca infraestrutura regional) limitava a difusão dos benefícios do crescimento e mantinha desigualdades regionais (Furtado, Formação Econômica do Brasil). O trecho de Gomes (2010) ilustra essa coexistência de um Brasil urbano-modernizado e de um Brasil rural-atrasado.
Justificativa da alternativa B: A alternativa indica corretamente que as características coloniais na estrutura socioeconômica constituíam um obstáculo para que o projeto desenvolvimentista efetivamente superasse as desigualdades entre os dois brasis. Ou seja, crescimento não implicou automaticamente em distribuição regional ou social — posição consistente com a literatura econômica e histórica sobre o período.
Análise das alternativas incorretas:
A — Projetos beneficentes/assistenciais não eram a base do desenvolvimentismo de JK, que priorizou obras, indústria e infra-estrutura; portanto, errada.
C — O Plano de Metas não produziu resultados iguais nos dois brasis; concentrou-se em centros urbanos e industriais, ampliando, em muitos casos, as desigualdades regionais.
D — Não houve eliminação do êxodo rural nem ampla elevação imediata da qualidade de vida no meio rural; o êxodo se intensificou em décadas seguintes.
E — O combate à inflação não foi a principal meta ou fator determinante do sucesso distributivo do governo JK; controle inflacionário efetivo ocorreu em outros momentos históricos.
Dica de interpretação: Identifique no enunciado termos-chave (ex.: “dois brasis”, “teoria do desenvolvimento”, “contrastes”) e compare-os com o conteúdo histórico conhecido sobre o Plano de Metas e as críticas de economistas como Celso Furtado.
Fontes sugeridas: Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil; J. F. A. Gomes, textos sobre o Brasil imperial e o século XIX; documentação do Plano de Metas (1956-1961).
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