Cheio de apreensões e receios despontou o dia de ontem, 14 de novembro de 1904. Muito
cedo tiveram início os tumultos e depredações. Foi grande o tiroteio que se travou. Estavam
formadas em toda a rua do Regente, estreita e cheia de casas velhas, grandes e fortes barricadas
feitas de montões de pedras, sacos de areia, bondes virados, postes e pedaços de madeira
arrancados às casas e às obras da avenida Passos.
Jornal do Comércio, 15/11/1904
O progresso envaidecera a cidade vestida de novo, principalmente inundada de claridade, com
jornais nervosos que a convenciam de ser a mais bela do mundo. Era a transição da cidade
doente para a maravilhosa.
PEDRO CALMON (historiador / 1902-1985)
Os textos referem-se aos efeitos da gestão do prefeito Pereira Passos (1902-1906), momento
em que a cidade do Rio de Janeiro passou por uma de suas mais importantes reformas
urbanas. Uma intervenção de destaque foi a abertura da avenida Central, hoje avenida Rio
Branco, provocando não só elogios, como também conflitos sociais.
A principal motivação para esses conflitos esteve relacionada à:
Gabarito comentado
Resposta correta: C — demolição de moradias coletivas
Tema central: a questão trata da reforma urbana do Rio de Janeiro sob o prefeito Pereira Passos (1902–1906) — a chamada “belle époque” carioca — e dos conflitos sociais provocados pelas intervenções. É preciso relacionar a descrição de barricadas, tumultos e demolições com o processo de remoção de moradores pobres (cortiços) para abrir a Avenida Central (atual Rio Branco).
Resumo teórico: a requalificação urbana inspirou‑se no modelo haussmanniano: alargamento de vias, remoção de bairros “insalubres” e higienização. Essas medidas implicaram despejos em massa de residentes de cortiços e a expulsão da população popular para a periferia, gerando resistência e confrontos. Fontes: Jornal do Comércio (15/11/1904) e estudos sobre a reforma urbana carioca; relatos oficiais da Prefeitura do Distrito Federal (1902–1906) e comentários de historiadores como Pedro Calmon.
Justificativa da alternativa C: o texto aponta barricadas, tiroteios e depredações no contexto da abertura da avenida — sinais típicos de despejos forçados e resistência popular. A demolição de habitações coletivas foi a principal causa imediata dos conflitos: ao terem seus lares demolidos, os moradores reagiram às remoções e à perda de moradia e meios de subsistência.
Análise das alternativas incorretas:
A — restrição ao comércio popular: podia ocorrer como efeito em alguns locais, mas não é a causa principal narrada. O foco do trecho é a destruição de moradias e confrontos nas ruas, não medidas comerciais.
B — devastação de áreas florestais: irrelevante aqui — a intervenção foi urbanística no centro da cidade, não desmatamento rural.
D — elevação das tarifas de transporte: aumentos tarifários geram protestos, mas o relato enfatiza barricadas e demolições ligadas às obras da avenida e à expulsão de moradores — portanto não é a principal motivação.
Dica de interpretação: procure no enunciado palavras‑chave (“barricadas”, “demolição”, “obras da avenida”) que indicam conflito por remoções. Relacione sempre à política urbana e às consequências sociais da “higienização” e da modernização.
Referências úteis: Jornal do Comércio, 15/11/1904; Relatórios da Prefeitura do Distrito Federal (1902–1906); Pedro Calmon, comentários sobre a reforma urbana do Rio de Janeiro.
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