Veja você, meu amigo, te resta apenas um meio para não ser explorado, nem oprimido: demonstrar coragem. Se os trabalhadores que são tão numerosos se opuserem com todas as suas forças aos patrões e a quaisquer formas de governo, estaremos bem próximos dos homens verdadeiramente livres.

Fala da peça Uma comédia social, representada por operários de São Paulo nos anos de 1910.

Adaptado de Nosso Século (1910-1930). São Paulo: Abril Cultural, 1981.

Durante a Primeira República (1889-1930), em cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, o movimento operário tornou-se um dos principais críticos às exclusões da sociedade brasileira. Considerando as propostas defendidas na fala citada do personagem, uma das ideologias que se fez presente no movimento operário brasileiro, naquele momento, foi:

Alternativa correta: B — Anarquismo

Tema central: reconhecimento das correntes ideológicas presentes no movimento operário brasileiro da Primeira República. É preciso identificar quais frases do enunciado refletem os princípios de cada ideologia.

Resumo teórico (claro e progressivo):

Anarquismo defende a abolição do Estado e das hierarquias autoritárias, apostando em ação direta, autogestão e greve como meios de emancipação. No Brasil (início do século XX), setores operários urbanos adotaram essas práticas e linguagem combativa.

Por que a alternativa B é correta:

O trecho enfatiza que os trabalhadores devem “opuserem com todas as suas forças aos patrões e a quaisquer formas de governo” e apela à “coragem” — termos que revelam rejeição do Estado e do poder patronal e convocam à ação direta coletiva. Essa postura é característica do anarquismo, que via no confronto direto e na recusa ao Estado o caminho para a liberdade dos trabalhadores. Fontes gerais sobre o tema: Peter Marshall, Demanding the Impossible (história do anarquismo); verbetes de Anarchism na Encyclopaedia Britannica; estudos sobre o anarquismo no Brasil (James N. Green e outros).

Análise das alternativas incorretas:

A — Socialismo: embora compartilhe a crítica ao capitalismo, o socialismo — em muitas de suas vertentes históricas — recorre à organização partidária e ao papel do Estado (ou à sua tomada) para promover mudanças estruturais. O enunciado rejeita “quaisquer formas de governo”, o que afasta o socialismo estatal.

C — Liberalismo: defende liberdade individual e economia de mercado. Não corresponde ao apelo coletivo contra patrões e governos; muito pelo contrário, tende a legitimar a propriedade privada e a limitação da intervenção estatal.

D — Cooperativismo: propõe organização econômica baseada na cooperação e autogestão, mas é uma estratégia construtiva/organizacional e não um chamado explícito à oposição radical a “quaisquer formas de governo” nem à ação direta confrontativa tal como colocada no trecho.

Dica de interpretação para concursos: procure palavras-chave que delimitam ideologias — por exemplo, “a quaisquer formas de governo” aponta fortemente para anarquismo; “Estado” ou “partido” e “tomada do poder” indicam socialismo estatal; referências a mercado/indivíduo → liberalismo; ênfase em cooperativas e produção conjunta → cooperativismo.

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