O contraste entre o silêncio e o ruído, entre a luz e as trevas, do mesmo modo que entre o verão e o inverno, acentuava-se mais fortemente do que nos nossos dias. A cidade moderna mal conhece o silêncio ou a escuridão na sua pureza e o efeito de uma luz solitária ou de um grito isolado e distante (...) Um som se erguia constantemente acima dos ruídos da vida ativa e elevava todas as coisas a uma esfera de ordem e serenidade: o ressoar dos sinos. Eles eram para a vida quotidiana os bons espíritos que, nas suas vozes familiares, ora anunciavam o luto, ora chamavam para a alegria; ora avisavam do perigo, ora convidavam à oração. Eram conhecidos pelos seus nomes: a grande Jaqueline, o sino de Rolando. Toda a gente sabia o significado dos diversos toques, que, apesar de serem incessantes, não perdiam o seu efeito no espírito dos ouvintes.
(Johan Huizinga. O declínio da Idade Média. Lisboa,
Ulisséia, s.d. p. 10-11. In: Miceli, Paulo. O Feudalismo. Ática, SP. p. 50).
A partir da leitura do texto acima, podemos concluir que
(Johan Huizinga. O declínio da Idade Média. Lisboa,
Ulisséia, s.d. p. 10-11. In: Miceli, Paulo. O Feudalismo. Ática, SP. p. 50).
A partir da leitura do texto acima, podemos concluir que
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa C
Tema central: o texto explora como o ritmo do cotidiano medieval era marcado pela religiosidade — especialmente pelos toques dos sinos — que estruturavam o tempo social mais que a lógica do mercado. Esse é um tema frequente em provas de História Geral sobre temporalidade e cultura medieval.
Resumo teórico: na Idade Média, a noção de tempo estava fortemente vinculada à liturgia cristã (horas canônicas). Os sinos assinalavam momentos de oração, trabalho, perigo e festa, criando um calendário sonoro conhecido por todos. Autores como Johan Huizinga e Jacques Le Goff mostram que o tempo medieval era ritualizado e integrado à ordem religiosa, em contraste com a crescente racionalização e mercantilização do tempo nas sociedades posteriores.
Por que a alternativa C é correta: ela sintetiza a ideia do texto — os sinos configuravam um ritmo temporal pautado pela religiosidade, pois o tempo era percebido como pertencente a Deus e organizado por práticas litúrgicas, não apenas pelos horários do mercado. O trecho citado enfatiza que os toques elevavam a vida a “ordem e serenidade” e que seus significados eram socialmente conhecidos, indicando controle ritual do tempo.
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta. Alega que os sinos traziam paz às pessoas “tão atribuladas nas vidas agitadas das cidades”. O texto contrapõe isso: o contraste entre silêncio/ruído era mais forte na Idade Média; não há sustentação de que as cidades fossem moderna e constantemente atribuladas como hoje.
B — Incorreta. Exagera ao afirmar que o governo era dirigido pela Igreja e que os sinos “anunciavam o que as pessoas deviam fazer”. Os sinos comunicavam normas litúrgicas e avisos, mas não equivalem a um comando político unívoco: Igreja tinha grande influência, mas não se reduz à direção direta de todo governo.
D — Incorreta. Interpreta literalmente a metáfora luz/trevas como juízo absoluto (Idade Média = trevas, hoje = luz). O autor usa contrastes sensoriais para caracterizar diferenças de experiência, não para fazer um juízo histórico tão simplista.
E — Incorreta. Afirma que a vida era marcada por silêncio e oração; porém o texto destaca os sons contínuos (sinos) e uma vida social ritmada pela liturgia, não um ambiente de silêncio permanente.
Dica de prova: procure no enunciado pistas sobre tempos sociais e evite alternativas com generalizações absolutas. Pergunte-se: o texto afirma influência prática (ritmo, comunicação) ou faz afirmações amplas sobre poder político ou moralidade?
Fontes: Johan Huizinga, O Declínio da Idade Média; Jacques Le Goff, A Civilização do Ocidente Medieval (para aprofundamento).
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!





