No início do século XX, estudiosos esforçaram-se em mostrar a continuidade, na Grécia Antiga, entre mito e filosofia, opondo-se a teses anteriores, que advogavam a descontinuidade entre ambos.
A continuidade entre mito e filosofia, no entanto, não foi entendida univocamente. Alguns estudiosos, como Cornford e Jaeger, consideraram que as perguntas acerca da origem do mundo e das coisas haviam sido respondidas pelos mitos e pela filosofia nascente, dado que os primeiros filósofos haviam suprimido os aspectos antropomórficos e fantásticos dos mitos.
Ainda no século XX, Vernant, mesmo aceitando certa continuidade entre mito e filosofia, criticou seus predecessores, ao rejeitar a ideia de que a filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo que o mito. Assim, a discussão sobre a especificidade da filosofia em relação ao mito foi retomada.
Considerando o breve histórico acima, concernente à relação entre o mito e a filosofia nascente, assinale a opção que expressa, de forma mais adequada, essa relação na Grécia Antiga.
A continuidade entre mito e filosofia, no entanto, não foi entendida univocamente. Alguns estudiosos, como Cornford e Jaeger, consideraram que as perguntas acerca da origem do mundo e das coisas haviam sido respondidas pelos mitos e pela filosofia nascente, dado que os primeiros filósofos haviam suprimido os aspectos antropomórficos e fantásticos dos mitos.
Ainda no século XX, Vernant, mesmo aceitando certa continuidade entre mito e filosofia, criticou seus predecessores, ao rejeitar a ideia de que a filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo que o mito. Assim, a discussão sobre a especificidade da filosofia em relação ao mito foi retomada.
Considerando o breve histórico acima, concernente à relação entre o mito e a filosofia nascente, assinale a opção que expressa, de forma mais adequada, essa relação na Grécia Antiga.
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa B
Tema central: a questão trata da relação entre mito (mythos) e filosofia nascente (logos) na Grécia Arcaica e Clássica — se há continuidade, transformação ou ruptura entre narrativas míticas e explicações racionais.
Resumo teórico: o discurso histórico sobre mito × filosofia distingue duas noções-chave: mythos (narrativa imaginativa que organiza o mundo em termos de deuses, origens e ações humanas) e logos (discurso racional que busca explicações causais, conceitos abstratos e argumentos). Autores como Cornford e Jaeger defenderam continuidade — a filosofia teria racionalizado temas míticos (ver Cornford, From Religion to Philosophy). Vernant, porém, mostrou que a mudança não é apenas um “mesmo conteúdo em outra linguagem”: há transformação de categorias cognitivas e contextos sociais (Vernant, Myth and Thought among the Greeks).
Por que a alternativa B está correta: ela apresenta a ideia central aceita pela historiografia contemporânea de forma equilibrada — o mito traz questões sobre origens e sentido de forma imaginativa; a filosofia retoma essas questões, mas oferece explicações racionais e argumentadas. Essa formulação reconhece continuidade temática sem anular a especificidade do pensamento filosófico.
Análise das alternativas incorretas:
A — oposição absoluta entre religiosidade e razão. É simplista: a filosofia grega não surge totalmente descolada da religião e cultura; há continuidade e reinterpretação, não apenas libertação.
C — classifica o mito como “infantil, pré-lógico e irracional” e afirma que a filosofia também se funda no rito. Trata-se de juízos de valor e contradições teóricas; reduz injustamente o mito e confunde as bases da filosofia.
D — enuncia muito específica (dilema caos × medida). Embora temas como caos e ordem apareçam, a descrição é restrita e não capta a relação geral entre mito e logos; portanto não responde adequadamente ao enunciado.
Dica de interpretação: busque palavras-chave que indiquem continuidade temática (por exemplo, “retoma questões”) e evite alternativas com juízos de valor absolutos (como “infantil” ou “libertada da religiosidade”). Lembre-se: continuidade não implica identidade total.
Referências indicativas: Cornford, From Religion to Philosophy; Jaeger, Paideia; Vernant, Myth and Thought among the Greeks.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!





