Identifica-se a função apelativa da linguagem em
Leia o poema para responder a questão.
Meninos carvoeiros
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
– Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe,[dobrando-se com um gemido.)
– Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles...
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!
–
Eh, carvoero!
Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimáriasApostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos
[desamparados!
(Manuel Bandeira, Estrela da vida inteira, 1993)
Vocabulário:
• Relho: chicote
• Aniagem: tecido grosseiro usado na confecção de sacos e fardos
• Encarapitados: postos no alto
• Alimárias: bestas de carga
Gabarito comentado
Tema central da questão: Interpretação de Texto – Função da linguagem, especialmente análise da função apelativa e o uso dos diminutivos na construção de sentidos afetivos e empáticos.
Comentário sobre a alternativa correta (D):
A alternativa D apresenta o trecho: “Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!”. Aqui, o sufixo “-inho” em carvoeirinhos não só indica que os carvoeiros são crianças (diminutivo de tamanho), mas transmite empatia e ternura do eu-lírico ao retratar o esforço infantil. Além disso, a estrutura da frase (com o vocativo e o uso direto do apostrofo) aproxima-se do interlocutor, estabelecendo uma comunicação direcionada a alguém, característica da função apelativa (ou conativa), cujo objetivo é influenciar ou envolver o receptor.
Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra, a função apelativa é marcada pelo foco no receptor e frequentemente utiliza o vocativo e construções que buscam produzir reação. Aqui, o diminutivo é afetivo e expressa empatia com as crianças.
Análise crítica das alternativas incorretas:
A) “magrinhos” destaca a fragilidade física dos burros, sem intenção de provocar reação no interlocutor ou envolver sentimento direto do emissor – atende a uma função descritiva, não apelativa.
B) “velhinha” reforça a idade da personagem e sugere afeto, mas descreve uma ação e não busca influenciar o leitor. Não há função apelativa.
C) “burrinhos descadeirados” pode conter tom irônico, mas também se limita à descrição do quadro, sem envolver empatia explícita, nem apelo direto ao leitor.
E) “pequenina, ingênua miséria!” usa o diminutivo para destacar a limitação quantitativa da miséria mencionada, evidenciando também julgamento subjetivo, mas não há apelo ou tentativa de influência clara ao receptor.
Dica importante: Funções da linguagem: identifique sempre o foco do enunciador – na função apelativa, a mensagem busca mobilizar, envolver ou convencer o receptor, enquanto outros trechos podem apenas descrever, emocionar ou informar.
Referência: Cunha & Cintra, “Nova Gramática do Português Contemporâneo”, e Bechara, “Moderna Gramática Portuguesa”.
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