Na obra O queijo e os vermes, o historiador Carlo Ginzburg conta a história de Domenico
Scandella, vulgo Menocchio, um moleiro do norte da Itália que, no século XVI, foi considerado
herege pela Igreja por afirmar que a origem do mundo estava na putrefação. Ao analisar o
processo inquisitorial que trata do caso, Ginzburg chama a atenção para as peculiares opiniões
de Menocchio sobre os dogmas da igreja e para suas críticas ao seu poder excessivo: a igreja
chegou a controlar um terço das terras cultiváveis da Europa. Para o autor, dois grandes
eventos históricos tornaram possível um caso como o de Menocchio: a invenção da imprensa e
a Reforma.
Com base nas informações e nos estudos sobre a Idade Moderna europeia, analise as
proposições.
I. A Reforma Protestante contribuiu para a uniformização das práticas e dos significados
religiosos no século XVI.
II. O desenvolvimento da imprensa contribuiu para que pessoas comuns tivessem acesso a
informações antes controladas pela Igreja Católica.
III. A venda de indulgências pela Igreja Católica foi um dos motivos que levou o monge
Martinho Lutero a escrever suas 95 teses, criticando vários pontos da doutrina católica.
IV. Uma das medidas da Contrarreforma foi o retorno da Inquisição, que tinha como objetivo
reprimir aqueles que não estavam seguindo a doutrina católica.
V. A censura exercida pela Igreja Católica Apostólica Romana foi determinante para a
expansão do protestantismo na Itália e na Península Ibérica.
Assinale a alternativa correta.
Gabarito comentado
Alternativa correta: A — Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
Tema central: Reforma Protestante, imprensa e Contrarreforma no século XVI — compreensão das mudanças religiosas, culturais e dos mecanismos de controle (Inquisição, censura) que marcaram a Idade Moderna.
Resumo teórico breve: A imprensa (Gutenberg) ampliou a circulação de ideias; a Reforma (Lutero, 1517) questionou doutrinas católicas — inclusive a venda de indulgências — e gerou fragmentação religiosa; a Contrarreforma (Concílio de Trento, medidas católicas) reforçou disciplina interna, promoveu o Index e fortaleceu a repressão (Inquisição).
Justificativa da alternativa A: II — Verdadeira: a imprensa barateou e difundiu textos religiosos e críticos, rompendo o monopólio informativo clerical (ver Elizabeth Eisenstein sobre o impacto da imprensa). III — Verdadeira: as indulgências foram causa direta da contestação de Lutero, expressa nas 95 teses. IV — Verdadeira: a Contrarreforma reforçou instrumentos de controle, entre eles a ação da Inquisição contra dissidentes (assim como o Index e tribunais eclesiásticos).
Análise das proposições incorretas: I — Falsa: a Reforma não uniformizou práticas; pelo contrário, fragmentou o cristianismo europeu em várias confissões (luterana, calvinista, anglicana etc.). "Uniformização" é pegadinha. V — Falsa: a censura católica e a forte presença da Igreja em Itália e Península Ibérica impediram, e não favoreceram, a expansão do protestantismo nessas regiões — logo, a afirmação é inversa ao fato histórico.
Dica de prova: procure palavras absolutas (como "uniformização" ou "determinante para a expansão") e relacione cada afirmativa ao contexto: imprensa = difusão; indulgências = gatilho de Lutero; Contrarreforma = reação repressiva. Elimine alternativas que contrariem o quadro conhecido.
Fontes recomendadas: Carlo Ginzburg, The Cheese and the Worms; Elizabeth Eisenstein, The Printing Press as an Agent of Change; estudos sobre o Concílio de Trento e a Inquisição.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!





