Analise as proposições em relação à escravidão e à abolição no Brasil.
I. O Brasil foi o último país independente do continente americano a abolir a escravidão,
mantendo-a por praticamente todo o período imperial.
II. Milhões de pessoas foram trazidas de diferentes regiões africanas para o Brasil e
escravizadas ao longo de mais de três séculos. Contudo, a mão de obra escrava, no Brasil,
não foi exclusivamente africana.
III. A lei Eusébio de Queiróz, em 1850, cessou a compra e a venda de escravos no Brasil, e a
pressão inglesa foi significativa para a promulgação desta lei.
IV. O fim da escravidão, no Brasil, se deu com a promulgação da Lei Áurea em 13 de maio de
1888, não tendo os escravos participado do processo de abolição.
V. Após a abolição, o estado brasileiro não ofereceu condições adequadas para que os ex-escravos se integrassem no mercado de trabalho assalariado, tendo a imigração europeia
sido justificada, inclusive por teorias raciais.
Assinale a alternativa correta.
Leia atentamente o texto para responder à questão.
“A unidade básica de resistência no sistema escravista, seu aspecto típico, foram as fugas. (...)
Fugas individuais ocorrem em reação a maus tratos físicos ou morais, concretizados ou
prometidos, por senhores ou prepostos mais violentos. Mas outras arbitrariedades, além da
chibata, precisam ser computadas. Muitas fugas tinham por objetivo refazer laços afetivos
rompidos pela venda de pais, esposas e filhos. (...) No Brasil, a condenação [da escravidão] só
ganharia força na segunda metade do século, quando o país independente, fortemente
penetrado por ideias e práticas liberais, se integra ao mercado internacional capitalista. (...)
“Tirar cipó” – isto é, fugir para o mato – continuou durante muito tempo como sinónimo de
evadir-se, como aparece no romance A carne, de Júlio Ribeiro. Mas as fugas, como tendência,
não se dirigem mais simplesmente para fora, como antes; se voltam para dentro, isto é, para o
interior da própria sociedade escravista, onde encontram, finalmente, a dimensão política de
luta pela transformação do sistema. “O não quero dos cativos”, nesse momento, desempenha
papel decisivo na liquidação do sistema, conforme analisou o abolicionista Rui Barbosa”.
REIS, João José. SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 62-66-71.
Gabarito comentado
Alternativa correta: B — Somente I, II e V são verdadeiras.
Tema central: resistência escrava e o processo de abolição no Brasil. É preciso relacionar fatos políticos (leis, datas), demografia do tráfico e formas de resistência (fugas, quilombos) e as políticas públicas pós‑abolição.
Resumo teórico imprescindível: - A Lei Eusébio de Queirós (4 set. 1850) proibiu o tráfico transatlântico de escravos para o Brasil, sob forte pressão britânica, mas não acabou com o comércio interno. - A Lei Áurea (Lei n.º 3.353, 13 mai. 1888) extinguiu formalmente a escravidão. Resistências constantes (fugas, quilombos, insubordinações urbanas) pressionaram o sistema antes e durante o processo abolicionista. Após 1888 o Estado não assegurou reformas de acesso à terra ou políticas de integração, e a imigração europeia foi estimulada com argumentos econômicos e raciais.
Por que I, II e V são verdadeiras (justificativa): I — Verdadeira: o Brasil, entre os Estados independentes das Américas, aboliu por último (1888) e manteve a escravidão por grande parte do período imperial (1822–1889). II — Verdadeira: milhões foram trazidos da África; porém nem toda a mão de obra cativa foi exclusivamente africana (houve escravização de indígenas, além de trabalho forçado e trabalho assalariado coercitivo). V — Verdadeira: após 1888 não houve política estatal ampla de assistência ou redistribuição de terras; elites incentivaram imigração europeia e debates raciais justificavam tal política.
Por que III e IV são falsas (análise das pegadinhas): III — Falsa por imprecisão: a Lei Eusébio extinguiu o tráfico internacional, não a compra e venda interna de escravos dentro do Brasil. A segunda metade da proposição (pressão inglesa) é correta, mas a afirmação global é incorreta. IV — Falsa: a data da Lei Áurea está correta, porém é equivocado dizer que os escravos “não participaram” do processo. A resistência dos cativos (fugas, quilombos, revoltas e boicotes) foi fator ativo na dinâmica abolicionista.
Dica de prova (estratégia): procure termos absolutos e verifique alcance das leis (interno vs. internacional). Quando uma parte da proposição estiver correta e outra errada, a declaração inteira é falsa.
Fontes rápidas: Lei Eusébio de Queirós (1850); Lei Áurea, Lei n.º 3.353 (13/05/1888); trabalhos de João José Reis sobre resistência escrava.
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