[Desde o início do século XIV], no reino do Congo (...) moravam povos agricultores que, quando convocados pelo mani
Congo, partiam em sua defesa contra inimigos de fora ou para
controlar rebeliões de aldeias que queriam se desligar do reino.
Aldeias (lubatas) e cidades (banzas) pagavam tributos ao
mani Congo, geralmente com o que produziam: alimentos,
tecidos de ráfia vindos do nordeste, sal vindo da costa, cobre
vindo do sudeste e zimbos (pequenos búzios afunilados
colhidos na região de Luanda que serviam de moeda). (...)
o mani Congo, cercado de seus conselheiros, controlava o
comércio, o trânsito de pessoas, recebia os impostos, exercia a justiça, buscava garantir a harmonia da vida do reino e
das pessoas que viviam nele. Os limites do reino eram traçados pelo conjunto de aldeias que pagavam tributos ao poder
central, devendo fidelidade a ele e recebendo proteção, tanto
para os assuntos deste mundo como para os assuntos do
além, pois o mani Congo também era responsável pelas boas
relações com os espíritos e os ancestrais.
(...) O mani Congo vivia em construções que se destacavam
das outras pelo tamanho, pelos muros que a cercavam, pelo
labirinto de passagens que levavam de um edifício a outro
e pelos aposentos reais que ficavam no centro desse conjunto e eram decorados de tapetes e tecidos de ráfia. Ali o
mani vivia com suas mulheres, filhos, parentes, conselheiros,
escravos, e só recebia os que tivessem nobreza suficiente
para gozar desse privilégio.
(Marina de Mello e Souza. África e Brasil africano, 2006)
A partir da descrição do reino do Congo, é correto afirmar
que, nesse reino,
Gabarito comentado
Alternativa correta: B
Tema central: organização política e social do Reino do Congo e a relação entre autoridade política e dimensão religiosa/simbólica nas cortes africanas pré-coloniais. Para resolver a questão é preciso identificar evidências no texto (tributo, poder ritual do mani, palácios, conselheiros) que relacionam poder temporal e sobrenatural e as semelhanças formais com cortes europeias.
Resumo teórico: Muitos reinos africanos centralizados (ex.: Congo) combinavam autoridade política, controle econômico e função ritual do soberano. O rei exercia justiça, recebia tributos, controlava o comércio e mediava relações com os ancestrais/espíritos — característica de uma corte com hierarquia e cerimonial. Fontes úteis: Marina de Mello e Souza, África e Brasil africano (2006); John K. Thornton sobre o Reino do Kongo.
Justificativa da alternativa B: O enunciado mostra que o mani Congo recebia tributos, presidia conselhos, exercia justiça e tinha responsabilidade religiosa (boas relações com espíritos e ancestrais). Esses elementos indicam íntima ligação entre político e sobrenatural. Além disso, a descrição da residência real e da corte (aposentos decorados, conselheiros, hierarquia de privilégios) revela semelhanças formais com cortes europeias — hierarquias rígidas e cerimônias cortesãs — tornando B a resposta correta.
Análise das incorretas:
A — afirma acumulação e redistribuição privilegiando aldeias leais: o texto não indica política de acumulação para o soberano nem redistribuição seletiva como objetivo central.
C — supõe que a ordem política derivava de economia baseada em mão de obra compulsória e captura para escravizar: o texto destaca tributos em bens e função protetora do rei; não há indicação de que o sistema político se baseava na captura massiva de pessoas para escravizar.
D — fala em fragmentação do poder e decisões comunitárias: pelo contrário, o texto mostra autoridade central do mani, conselheiros e tributos vinculando aldeias à centralidade do rei.
E — interpreta prevalência tribal e dominação por outros povos/comerciantes europeus para exploração de metais: o texto descreve um reino estruturado com economia de trocas e moeda (zimbos), não uma entidade tribal fragilizada dominada externamente por interesse em metais.
Dica de prova: Procure no enunciado termos-chave (tributo, conselheiros, função religiosa, palácio) que indicam tipo de regime; compare apenas o que o texto afirma, evitando extrapolações sobre escravidão ou dominação externa sem evidência.
Fontes: Marina de Mello e Souza, África e Brasil africano (2006); John K. Thornton (estudos sobre o Reino do Kongo).
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