Questão 8d7fb823-ab
Prova:INSPER 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Adjetivos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia, Morfologia

No título, o termo “gordurosa” revela pistas sobre o ponto de vista defendido pelo autor. Com base nas ideias expostas ao longo do texto, é correto afirmar que esse adjetivo foi empregado no sentido de

A ciência gordurosa
Vou ao supermercado e fico pasmo com os produtos nas prateleiras. Não falo da quantidade de iogurtes, bolachas, pastas dentifrícias ou papel higiênico que me transformam no famoso burro de Buridan – o asno do paradoxo filosófico que morre de fome por não saber qual dos pedaços de feno escolher. De fato, tanta variedade paralisa qualquer um.
Falo de outro fenômeno igualmente agônico: a quantidade de produtos alimentares que parecem
diretamente saídos de um consultório médico.
Um iogurte não é um iogurte, com um determinado sabor e uma determinada textura. É quase um remédio de farmácia que promete diminuir o colesterol e controlar 50 outros indicadores orgânicos igualmente importantes para a saúde do sujeito.
E quem fala em iogurtes, fala em sucos (com seu cortejo de vitaminas), batatas fritas (com reduções
heroicas na quantidade de sal) e até chocolates (alguns deles prometem melhorar o fluxo arterial). Como se chegou a isto?
Verdade: com a "morte de Deus" e o fim de uma vida transcendente, cuidar do corpo transformou-se na única religião dos homens modernos. De tal forma que nem a gastronomia está a salvo: antes do prazer ou da mera fome, está primeiro a saúde.
Hoje, não se come mais para viver. Come-se para viver até aos cem – uma importante revolução
civilizacional.
Honestamente, nem sei por que motivo não se abrem restaurantes em hospitais, com refeições cozinhadas por médicos e servidas por enfermeiros. No final, o cliente faria análises ao sangue e só pagaria a conta se tivesse o número certo de triglicerídeos.
O problema é que nem no hospital o cliente estaria a salvo. Desde logo porque é cada vez mais difícil saber o que comer: existem estudos, publicados a um ritmo demencial, que dizem uma coisa e o seu contrário. Às vezes, na mesma semana – ou até no mesmo dia.
A carne vermelha é má, defendem uns. A carne vermelha é ótima, garantem outros. Sobre os laticínios, há opiniões para todos os gostos: são puro veneno; são simplesmente insubstituíveis. E até as gorduras, que deveriam ser um inimigo consensual, parece que não são tão inimigas assim.
A revista "Time", aliás, dedicou matéria especial ao fenômeno: durante décadas, o país declarou guerra às gorduras (...) Os americanos foram dizendo adeus ao lixo, optando por aves, leite magro ou cereais. Infelizmente, a mudança na dieta não os tornou mais saudáveis. Pelo contrário: o país está mais doente do que nunca. (...)
Explicações?
Não, a gordura não é o papão que se imaginava, explica a revista. Não entro em termos técnicos, até
porque eles são demasiado gordurosos para mim. Mas parece que a gordura do peixe e dos vegetais é boa para o coração. E até a gordura "suspeita" de um bom filé (cozinhado com manteiga, claro) tem vantagens respeitáveis na limpeza do mau colesterol.
Os verdadeiros inimigos, hoje, são os carboidratos presentes nos açúcares, nos doces, nos farináceos. Isso, claro, enquanto não surgir um novo estudo a defender precisamente o contrário – ou, pelo menos, a colocar as coisas nas suas devidas proporções.
E eu? Que fazer perante essa selva de alarmes contraditórios?

João Pereira Coutinho
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/172598-...
gordurosa.shtml. Acesso em 31.07.14

A
vacilante.
B
saudável.
C
enfadonha.
D
impositiva.
E
inócua.

Gabarito comentado

F
Fabiana Lacerda Monitor do Qconcursos

Comentário do gabarito

1. Tema central: Esta questão avalia interpretação de texto, mais especificamente a compreensão de sentido conotativo (figurado) de palavras, uma habilidade essencial em provas de vestibular.

2. Justificativa para a alternativa correta:

O termo "gordurosa" no título do texto é empregado de forma conotativa, ou seja, não assume seu significado literal de “cheia de gordura”, mas sim uma ideia associada ao excesso, desorganização e confusão na “ciência” ligada à alimentação. O texto enfatiza a vacilação da ciência nesse campo: há estudos se contradizendo, mudanças frequentes e incertezas sobre o que é ou não saudável. Por isso, a alternativa A) vacilante traduz com exatidão o ponto de vista do autor, pois “gordurosa” aponta para algo incerto, indefinido, instável — ou seja, vacilante.

Base normativa: Segundo Celso Cunha e Lindley Cintra, o sentido figurado (conotativo) depende do contexto e é fundamental em interpretações. Já Evanildo Bechara destaca que o emprego polissêmico exige atenção ao que o texto sugere, não só declara.

3. Análise das alternativas incorretas:

B) saudável: Incorreta. O sentido não é positivo ou de bem-estar; a “ciência gordurosa” não inspira saúde, mas confusão.
C) enfadonha: Incorreta. O texto não foca em tédio, cansaço ou monotonia, mas sim em incerteza e contradição.
D) impositiva: Incorreta. O texto não retrata imposição, mas insegurança e ausência de consenso.
E) inócua: Incorreta. A ideia não é de “inofensiva” ou sem efeito, mas sim de excesso e falta de clareza.

4. Estratégia para acertar questões de sentido figurado:

Leia sempre em busca do contexto. Observe se os termos estão expressando um sentido literal (denotativo) ou figurado (conotativo). Atente à atitude do autor — neste caso, ironia, crítica e dúvida são marcas claras.

Portanto, "vacilante" traduz com precisão a “ciência gordurosa” — cheia de dúvidas e contradições.

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