Ao final da peça “Quase ministro”, o personagem Silveira narra uma história que é uma espécie de alegoria de
tudo o que aconteceu anteriormente na peça:
SILVEIRA Mas esperem: onde vão? Ouçam ao menos uma história. É pequena, mas conceituosa. Um dia anunciou-se um
suplício. Toda gente correu a ver o espetáculo feroz. Ninguém ficou em casa: velhos, moços, homens, mulheres, crianças,
tudo invadiu a praça destinada à execução. Mas, porque viesse o perdão à última hora, o espetáculo não se deu e a forca
ficou vazia. Mais ainda: o enforcado, isto é, o condenado, foi em pessoa à praça pública dizer que estava salvo e confundir
com o povo as lágrimas de satisfação. Houve um rumor geral, depois um grito, mais dez, mais cem, mais mil romperam de
todos os ângulos da praça, e uma chuva de pedras deu ao condenado a morte de que o salvara a real clemência.
ASSIS, Machado de. Quase Ministro. In: Teatro de Machado de Assis. Org. João Roberto Faria. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 26.
O período “Mas, porque viesse o perdão à última hora, o espetáculo não se deu e a forca ficou vazia” pode ser
mais adequadamente parafraseado, sem prejuízo das relações de causa e consequência originais, por:
Gabarito comentado
Tema central: A questão exige interpretação de texto, especificamente a identificação da relação semântica de causa e consequência expressa entre as orações por meio do uso de conectivos (conjunções subordinativas causais).
Regra normativa envolvida: Pela norma-padrão, orações subordinadas causais apresentam a motivação de um fato, com conjunções como porque ou como. De acordo com Cunha & Cintra (“Nova Gramática do Português Contemporâneo”) e Bechara (“Moderna Gramática Portuguesa”), o uso de como para iniciar uma oração causal é legítimo e recorrente, especialmente quando antecede a oração principal: “Como estava cansado, dormiu cedo.”
Justificativa da alternativa correta (A): “Mas, como o perdão veio à última hora, o espetáculo não se deu e a forca ficou vazia.” Nessa construção, “como” introduz a causa de os fatos seguintes terem ocorrido. Assim, a relação de causalidade é mantida integralmente e com clareza, sem alterar o sentido original.
Análise das alternativas incorretas:
B) “Embora o perdão viesse...” — “Embora” é concessivo, expressa concessão (algo contrário ao esperado), não causa. Exemplo: “Embora chovesse, saíram.” Altera o sentido original.
C) “Se o perdão viesse...” — “Se” indica condição; aqui não se trata de hipótese, mas de um fato concreto, alterando a natureza da relação.
D) “Quando o perdão veio...” — “Quando” expressa tempo, equivalendo a “no momento em que”, e não à causa. Desequilibra o sentido causal.
E) Inverte a lógica semântica: “O perdão veio..., mas o espetáculo não se deu...” O “mas” é adversativo, expressa oposição, não explicação ou causa.
Pontos-chave para provas:
- Observe o papel semântico dos conectivos: causais (“como”, “porque”), concessivos (“embora”), condicionais (“se”), temporais (“quando”), adversativos (“mas”).
- Pequenas mudanças de conectivo alteram totalmente o sentido!
- Em parafraseamentos, busque manter a relação lógica original.
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