Questão 8b33488f-c2
Prova:UFCG 2009
Disciplina:História
Assunto:Medievalidade Europeia, História Geral

Desde a época romântica, continuada pela literatura e pelo cinema fantásticos até a história em quadrinhos contemporânea, os fantasmas fazem parte do cenário obrigatório da Idade Média tal como gostamos de imaginá-la. Uma Idade Média de castelos mal-assombrados, de dragões, de fantasmas ou mesmo de vampiros. Nem tudo é falso nessa imagem não obstante fácil demais: em uma cultura eminentemente religiosa (no sentido em que cada um admitia a existência e o poder de seres sobrenaturais, geralmente invisíveis, mas muito próximos) e familiar à morte e aos mortos, a ‘crença nos fantasmas’ era admitida por todos.”

Sobre as atribuições dos vivos em relação aos mortos na Europa Medieval, é correto afirmar que:

I) A força da mística cristã conseguiu apagar as marcas de tradições pagãs greco-romanas e “bárbaras” referentes a modos singulares de culto aos mortos, apaziguando a crença nos castelos mal-assombrados e nos vampiros.

II) A crença no mundo sobrenatural era experimentada pelos medievais, favorecendo o crescimento de relatos sobre fantasmas que, após o ano 1000, passaram a ser difundidos pelo clero católico, interessado em preservar a memória dos mortos.

III) A lembrança acerca dos mortos era uma forma de administrar a dor da perda, na medida em que aplacava as consciências e reforçava a separação entre o mundo dos vivos e o dos mortos.

IV) A criação do purgatório pela Igreja Católica, no século XII, implicou no enfraquecimento das práticas de culto aos mortos, o que só seria retomado a partir das Reformas religiosas.

Estão corretas:

A
II e III.
B
II, III e IV.
C
III e IV
D
I e II.
E
I, II e IV.

Gabarito comentado

A
Anderson MaiaMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa A — II e III

Tema central: crenças medievais sobre mortos, fantasmas e práticas de memória. É relevante porque envolve cultura religiosa, rites funerários e a formação doutrinária (purgatório) — tópicos comuns em História Geral e em provas que cobrem mentalidades e práticas sociais medievais.

Resumo teórico: Na Europa medieval a presença do sobrenatural era cotidiana; a Igreja católica e o clero participaram ativamente da produção e circulação de narrativas sobre mortos e santos. A doutrina do purgatório foi se consolidando entre os séculos XII–XIII (obras teológicas como as de Pedro Lombardo; tradição aprofundada pela escolástica) e, longe de reduzir rituais, tornou mais relevantes as missas e orações pelos mortos, porque ofereciam meios de auxílio às almas. Obras de referência: Philippe Ariès, O Homem Diante da Morte; estudos de Caroline Walker Bynum sobre piedade medieval.

Por que II e III são verdadeiras:

  • II: Após o ano 1000 houve intensificação da cultura memorial (missas de sufrágio, obituários, relatos hagiográficos e de aparições). O clero difundiu muitas dessas narrativas para ensinar, exemplificar virtudes e motivar orações pelos mortos — portanto a afirmação está correta.
  • III: Lembranças e cultos aos mortos funcionavam como mecanismos sociais e psicológicos de luto — aliviavam a dor, ajustavam culpas e marcavam a distância entre vivos e mortos por meio de rituais e calendários de memória. Correto.

Análise das alternativas incorretas:

  • I — Errada: afirma que o cristianismo “apagou” tradições pagãs; na prática houve sincretismo e continuidade de crenças populares (fantasmas, práticas locais). A Igreja muitas vezes incorporou, regulou ou transformou costumes, não os eliminou totalmente.
  • IV — Errada: apresenta a invenção do purgatório (séculos XII–XIII) como causa de enfraquecimento das práticas de culto aos mortos. Pelo contrário, a ideia de que as orações e missas podiam auxiliar as almas intensificou esses cultos (chantries, memoriais). As Reformas protestantes reduziram tais práticas em áreas reformadas, não as retomaram.

Dica de prova: Desconfie de termos absolutos como “apagou” (I) e relacione doutrina (purgatório) com consequências práticas — se a doutrina dá meios de intervenção (missas pelos mortos), espere aumento — não diminuição — de práticas. Use referências cronológicas: intensificação pós-1000 e consolidação teológica entre XII–XIII.

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