Questão 89b7b0a2-af
Prova:PUC - Campinas 2010
Disciplina:História
Assunto:República Oligárquica - 1889 a 1930, História do Brasil

O mandonismo local comumente exercido pelos senhores de engenho, como sugere o texto é um traço do coronelismo, um dos mais característicos fenômenos sociais e políticos da República Velha. Sobre esse fenômeno pode-se afirmar que

I. o governo por meio de eleições fraudulentas, conhecidas na época por “eleições do cacete”, “fabricava” uma maioria parlamentar que lhe servia de base de apoio na aprovação de projetos de seu interesse e dos latifundiários.
II. sua forma mais genuína foi fruto do entrelaçamento de modernas instituições, como o voto universal e a autonomia estadual, com as arcaicas estruturas da grande propriedade rural e seus interesses particularistas.
III. o regime republicano inaugurou no país uma política fundamentada no predomínio político dos cafeicultores paulistas no governo federal, aliado às oligarquias dominantes na política em âmbito estadual e local.
IV. a consolidação do domínio municipal do interior pelos dirigentes políticos era assegurada pelas alianças políticas com candidatos governistas nas eleições estaduais e federais, nas quais toda sua “clientela” era forçada a votar.

É correto o que se afirma SOMENTE em

Para responder à questão, considere o texto abaixo.


    − É o que lhe digo, seu Laurentino. Você mora na vila. Soube valorizar o seu ofício. A minha desgraça foi esta história de bagaceira. É verdade que senhor de engenho nunca me botou canga. Vivo nesta casa como se fosse dono. Ninguém dá valor a oficial de beira de estrada. Se estivesse em Itabaiana, estava rico. Não é lastimar, não. Ninguém manda no mestre José Amaro. Aqui moro para mais de trinta anos.

(José Lins do Rego. Fogo morto. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956. p. 32) 

A
I e II.
B
I e III.
C
II e III.
D
II e IV.
E
III e IV.

Gabarito comentado

A
Anderson MaiaMonitor do Qconcursos

Resposta: alternativa D — II e IV

Tema central: trata-se do coronelismo e do mandonismo local na República Velha (1889–1930): como o poder das oligarquias rurais se sustentou usando instituições republicanas (voto, federalismo) combinadas com clientelismo, coerção e alianças políticas.

Resumo teórico: o coronelismo é um sistema de poder local em que “chefes” (coronéis) controlavam eleitores por clientelismo, violência e favores, assegurando votos a candidatos estaduais e federais. Esse poder se apoiava na autonomia dos estados (federalismo) e num eleitorado masculino amplo, mas mal fiscalizado, além da estrutura da grande propriedade rural. Fontes clássicas: Boris Fausto; Raymundo Faoro, Os Donos do Poder.

Por que II e IV estão corretas:

  • II — Verdadeira: o coronelismo nasce do entrelaçamento entre instituições republicanas modernas (voto ampliado, autonomia estadual) e as arcaicas relações de poder rural; essa combinação permitiu que elites locais instrumentalizassem o novo sistema político (Faoro; Fausto).
  • IV — Verdadeira: o domínio municipal era mantido por alianças com candidatos governistas nas esferas estadual/federal; em troca, os “chefes” mobilizavam (ou coagiam) sua clientela para votar, garantindo assim controle e recompensas políticas. Isso descreve exatamente a prática do “voto de cabresto” e das trocas clientelistas.

Análise das alternativas incorretas:

  • I — Incorreta: embora houvesse fraude e violência eleitoral (“cacete”, voto de cabresto), a afirmação atribui ao “governo” federal a fabricação direta de maioria parlamentar. Na prática, o instrumental de fraude era local: oligarquias estaduais/municipais controlavam eleições para favorecer suas clientelas; não foi um mecanismo centralizado único do governo federal como a alternativa sugere.
  • III — Incorreta: contém um exagero/precisão imprecisa: é verdade que café e paulistas tiveram grande influência (política do “café com leite”), mas o enunciado enfatiza apenas os paulistas como fundamento exclusivo do regime. O poder era oligárquico e dependia de alianças regionais (São Paulo–Minas e outras oligarquias), não apenas de uma hegemonia paulista isolada.

Dica de interpretação: atente para termos absolutos (ex.: “o governo fez…”, “inaugurou…”) — muitas assertivas históricas são parciais; diferencie quem exercia o poder local (coronéis/oligarquias) do papel formal do Estado central. Relacione conceitos (clientelismo, federalismo, voto) antes de marcar a alternativa.

Fontes indicadas: Raymundo Faoro, Os Donos do Poder; Boris Fausto, História do Brasil; artigos sobre coronelismo e voto de cabresto na República Velha.

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