A travessia do Atlântico durava mais de dois meses.
Espremidos nos porões dos navios negreiros, milhares de
homens, mulheres e crianças suportavam calor, sede, fome,
sujeira, ataques de ratos e piolhos, e surtos de sarampo e
escorbuto. Muitos não resistiam e acabavam jogados ao mar.
(FLORENTINO, Manolo. 1997.)
O tráfico de escravos foi uma prática prevalente por vários
séculos no Brasil. Sobre essa prática, analise as afirmativas
a seguir.
I. O tráfico ultramarino de africanos, com o objetivo de
escravizá-los, teve relação direta com a necessidade
permanente de trabalhadores nos engenhos do Brasil.
II. O Brasil foi o lugar onde houve um dos mais
desenvolvidos comércios de escravos, perdendo em
quantidade apenas para a Inglaterra e para a França.
III. Os escravos eram conseguidos por traficantes que
obtinham os prisioneiros comprando-os na África, caso
fossem prisioneiros de guerra, ou por meio de
emboscadas realizadas pelos próprios traficantes.
IV. Os navios negreiros, ou tumbeiros eram, de uma
maneira geral, subvencionados pelo Estado e raramente
ligados à iniciativa de comerciantes particulares.
V. No sistema colonial escravista, a existência do tráfico
negreiro atendia a uma demanda por escravos das
colônias e, por ser uma atividade altamente lucrativa,
atendia aos interesses da metrópole e da colônia.
Estão corretas as afirmativas
Gabarito comentado
Resposta: Alternativa C — I, III e V, apenas.
Tema central: trata-se do tráfico atlântico de africanos para o Brasil — sua lógica econômica (demanda por trabalho nas lavouras e engenhos), formas de obtenção dos cativos e o papel do Estado e do mercado. É tema recorrente em provas por ligar economia colonial, relações internacionais e história social.
Resumo teórico: o tráfico negreiro foi motivado pela necessidade de mão de obra na produção colonial (açúcar, ouro, café). A cadeia envolvia capturas na África (guerras, emboscadas ou venda por intermediários africanos), transporte em navios negreiros (condições desumanas) e inserção dos cativos na economia colonial. A iniciativa do tráfico foi majoritariamente privada, embora o Estado concedesse cartas, alvarás e, por vezes, privilégios. (Ver Herbert S. Klein, The Atlantic Slave Trade; Stuart B. Schwartz, Slaves, Peasants, and Rebels).
Por que I, III e V são corretas:
- I: o tráfico ultramarino supria a demanda permanente de trabalhadores nos engenhos e fazendas — fator central da economia colonial.
- III: os cativos chegaram por compra de prisioneiros de guerra e também por sequestros/emboscadas; havia participação de traficantes africanos e europeus em variados graus.
- V: o tráfico atendia a necessidades econômicas tanto da colônia (mão de obra) quanto da metrópole (lucro, integração comercial) — era altamente lucrativo para agentes envolvidos.
Análise das alternativas incorretas:
- II — incorreta: o enunciado afirma que o Brasil “perdeu em quantidade apenas para a Inglaterra e para a França”. Na verdade, o Brasil foi o maior destino individual de africanos na América (estima‑se cerca de 40% do total). Inglaterra e França foram grandes atores no tráfico, mas não como destinos na mesma escala que o Brasil.
- IV — incorreta: navios negreiros eram, em sua maioria, iniciativa de comerciantes privados (portugueses e estrangeiros). O Estado concedeu direitos, regulou e por vezes interveio, mas não subvencionou de modo geral a atividade nem foi seu principal executor.
Dica para provas: desconfie de palavras absolutas como “raramente”, “sempre” ou comparações numéricas sem referência. Relacione cada afirmativa ao contexto econômico (açúcar, ouro, café) e às cadeias comerciais – isso ajuda a validar I, III e V.
Fontes sugeridas: Herbert S. Klein, The Atlantic Slave Trade; Stuart B. Schwartz, Slaves, Peasants, and Rebels; Manolo Florentino (textos sobre escravidão no Brasil).
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