TEXTO 01
CITONHO Doutor Noêmio, desculpe a indiscrição.
Andaram me falando de uma coisa, mas eu não quis
de maneira nenhuma acreditar. Me disseram que o
senhor é de uma raça que só come folha.
DR. NOÊMIO Pois pode acreditar. Sou vegetariano
e tenho muito orgulho disto.
CITONHO Mas a gente vê umas neste mundo! Não
está vendo que tomate e chuchu não dão sustança a
ninguém?! Agora: feijão, farinha e carne, sim, isso é
que é comida. Olhe aqui eu. Estou com mais de oitenta anos, só não como carne na Sexta-feira da Paixão – e olhe lá... Resultado: uma saúde de ferro: estou
tinindo.
DR. NOÊMIO Isso é o que o senhor pensa. Seu corpo está envenenado, meu velho, com toxinas até na
ponta dos cabelos. Até na sombra.
[...]
FREDERICO Eu só rezo pra defunto. Interessa?
Liás, cabra safado não serve pra morrer, só serve pra
apanhar. E apanhar entre os bicos dos peitos e o caroço do imbigo, que é pra não deixar marcas da surra.
Ah!, nós três num deserto: eu, você e um cacete de
quixaba! Porque quixaba é o chá melhor que existe
no mundo pra pancada. Assim, pra ganhar tempo, a
gente dá logo a pisa com quixaba, porque está dando
o castigo e o remédio. Mas já gastei muita cera com
você. [...]
(LINS, Osman. Lisbela e o prisioneiro. São Paulo: Planeta,
2003. p. 22 e 25.)
O texto 01 trata de hábitos vegetarianos. Uma sensibilidade especial com os animais e os primeiros exemplos ocidentais de vegetarianismo surgiram na mesma
época da Revolução Industrial. Sobre a Revolução Industrial, tão importante na constituição da modernidade, é
correto afirmar (assinale a alternativa verdadeira):
Gabarito comentado
Resposta correta: B
Tema central: a questão relaciona Revolução Industrial e suas consequências geopolíticas — especialmente a expansão europeia (imperialismo) — e conecta isso à circulação de ideias e práticas culturais, como formas de alimentação presentes em sociedades colonizadas (ex.: Índia).
Resumo teórico essencial: A Revolução Industrial (final do séc. XVIII e início do XIX, sobretudo na Grã‑Bretanha) introduziu máquinas, produção fabril e uso intensivo de carvão e vapor. Esse processo elevou a necessidade de matérias‑primas, mercados consumidores e rotas de comércio, impulsionando uma nova fase de expansão imperial europeia na Ásia e África (ver Hobsbawm; Mokyr).
Por que a alternativa B é correta: A industrialização ampliou a presença europeia na Ásia em busca de matérias‑primas (algodão, especiarias), mercados e investimentos. Nesse contato os europeus conheceram costumes locais, entre eles tradições vegetarianas consolidadas em culturas indianas (hinduísmo, jainismo). Assim, a afirmação de que a industrialização levou a uma segunda expansão europeia entrando em contato com culturas vegetarianas é historicamente consistente.
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta. A Revolução Industrial não “começou” a partir de técnicas árabes/extremo‑orientais nem gerou as corporações de ofício; guildas europeias medievais foram instituições internas. A superioridade tecnológica da Ásia/Oriente em certos períodos é discutível, mas não sustenta a afirmação temporal feita na alternativa.
C — Incorreta. O encontro europeu com culturas indígenas ocorreu desde os séculos XV–XVI (Era dos Descobrimentos). A industrialização intensificou contatos e imperialismo, mas não foi o ponto inicial em que “os europeus, em busca de mercados, entraram em contato com culturas indígenas” — isso já vinha ocorrendo antes.
D — Incorreta. A preocupação com recursos e o movimento ecológico são fenômenos posteriores e complexos (século XX). O vegetarianismo moderno tem múltiplas origens (éticas, religiosas, científicas) e não deriva diretamente da percepção de exaustão do carvão na fase inicial da Industrialização.
Dica de interpretação: Busque relacionar termos‑chave do enunciado (ex.: “Revolução Industrial”, “expansão europeia”, “Ásia”) com processos históricos conhecidos (industrialização → imperialismo → contato cultural). Desconfie de afirmações que deslocam cronologias ou atribuem causalidades simplistas.
Fontes rápidas para estudo: HOBSBAWM, E. J. A Era das Revoluções; MOKYR, J. The Enlightened Economy; Encyclopaedia Britannica (art. Industrial Revolution).
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