“Canudos de hoje é a terceira da história. A primeira, criada no século 18, foi destruída
pelo Exército em 1897, no fim da guerra. A segunda surgiu por volta de 1910, construída sobre as ruínas da anterior. Os primeiros habitantes eram sobreviventes do conflito.
Em 1950, com o início das obras da barragem que inundaria o local, os moradores
começaram a sair, formando um novo vilarejo a uma distância de cerca de 20 quilômetros. A segunda Canudos desapareceu sob as águas do açude do Cocorobó, em 1969. O
vilarejo tornou-se, em 1985, a terceira Canudos.”
ALMEIDA, M. V. “Destruída duas vezes, Canudos sobrevive em meio a escombros e miséria”.
Folha de São Paulo, São Paulo, 09 jun. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/06/destruida-duas-vezes-canudos-sobrevive-em-meio-a-escombros-e-miseria.shtml
Acesso em: 09 jun. 2019.
A cidade atual, com seus mais de 16 mil habitantes, apresenta graves problemas sociais. Por
isso, permanecer em Canudos expõe a resistência e tensão frente às péssimas condições de
vida que, para a grande maioria, não são meras adversidades momentâneas. Em relação à
historicidade que envolve Canudos é CORRETO afirmar.
Gabarito comentado
Alternativa correta: E
Tema central: a questão trata da Guerra de Canudos (1896–1897) e do contexto da formação da República no fim do século XIX. É sobre como conflitos locais revelam contestações ao projeto nacional republicano — desigualdades sociais, violência estatal e repressão a vozes dissidentes.
Resumo teórico: Canudos surgiu num sertão marcado por seca, pobreza e disputa por terras. Antônio Conselheiro articulou uma comunidade com forte componente religioso e críticas às autoridades locais e republicanas. A resposta do Estado foi militarizada: a campanha contra Canudos é exemplo de como a consolidação da República contou com uso da força para homogeneizar um projeto de nação, reprimindo dissensos sociais e regionais (ver Euclides da Cunha, Os Sertões; Boris Fausto, História do Brasil).
Justificativa da alternativa E: Ela afirma que o processo de constituição da República envolveu contestações e conflitos que expressavam tensões e desigualdades, posteriormente duramente reprimidas. Essa interpretação é historiograficamente aceita: Canudos é leitura clássica de resistência social que confrontou o Estado nascente e foi derrotada pela ação militar, revelando rupturas no projeto republicano.
Análise das alternativas incorretas:
A — incorreta: reduz Antônio Conselheiro a mero desvio religioso. Ele liderou mobilização social com caráter político e social, não apenas crenças "pacíficas".
B — incorreta: embora exista imagem messiânica, Canudos não gerou desenvolvimento econômico via turismo ou arqueologia no século XIX; o conflito destruiu a comunidade e apenas hoje há memória e turismo muito limitados.
C — incorreta: mistura fatores reais (seca, fome, pobreza) com conclusão errada — o enunciado indica continuidade da população e existência atual da cidade; além disso, Canudos não foi totalmente “abandonado”.
D — incorreta: a barragem de Cocorobó (1960–1969) inundou as ruínas da segunda Canudos, prejudicando a preservação material do sítio; portanto, não “conservou grande parte da cidade antiga”.
Dicas de interpretação: leia palavras-chave (ex.: "constituição da República", "contestações", "repreendidas"); desconfie de alternativas que apresentem fatos verdadeiros mas conclusões incompatíveis; relacione causas sociais (seca, desigualdade) com respostas do Estado (militarização, repressão).
Fontes sugeridas: Euclides da Cunha, Os Sertões; Boris Fausto, História do Brasil; reportagem Folha de S. Paulo (2019) para aspectos contemporâneos.
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