Leia com atenção os versos de cordel a seguir.
“Ele matava de brincadeira,
Por pura perversidade,
E alimentava os famintos
Com amor e caridade.”
“Por onde Lampião anda,
Minhoca fica valente,
Macaco briga com onça
E o carneiro não amansa.”
(HOSBAWN, Eric. Bandidos. Rio de Janeiro:
Editora Forense-Universitária, 1976. p. 55.)
Nesses versos, a figura de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, apresenta algumas características
conflitantes e muito valorizadas dos grupos de cangaceiros que circulavam pelo sertão, na primeira metade
do século XX. Essas características, que despertavam respeito e identificação da população pobre do sertão
com esses grupos, era(m)
Leia com atenção os versos de cordel a seguir.
“Ele matava de brincadeira,
Por pura perversidade,
E alimentava os famintos
Com amor e caridade.”
“Por onde Lampião anda,
Minhoca fica valente,
Macaco briga com onça
E o carneiro não amansa.”
(HOSBAWN, Eric. Bandidos. Rio de Janeiro: Editora Forense-Universitária, 1976. p. 55.)
Nesses versos, a figura de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, apresenta algumas características
conflitantes e muito valorizadas dos grupos de cangaceiros que circulavam pelo sertão, na primeira metade
do século XX. Essas características, que despertavam respeito e identificação da população pobre do sertão
com esses grupos, era(m)
Gabarito comentado
Resposta correta: B
Tema central: interpretação de versos de cordel sobre Lampião e identificação das características sociais e simbólicas do cangaço — especialmente a ambivalência entre violência e proteção aos pobres. Esse tipo de questão exige vincular leitura literária a conceitos históricos (como o conceito de “bandidos sociais”).
Resumo teórico: Eric Hobsbawm definiu a figura do “bandido social” (in Bandidos, 1976) como aquele que, embora praticando violência, ganha legitimidade popular ao punir opressores e distribuir recursos aos pobres — surgindo como espécie de justiça paralela em regiões com Estado fraco. No Nordeste brasileiro, o cangaço (déc. XIX–XX) produziu imagens ambíguas: crueldade para inimigos e, simultaneamente, solidariedade com camponeses que viam neles defesa e ganho simbólico.
Justificativa da alternativa B: Os versos explicitam essa dualidade: “Ele matava... por pura perversidade” (violência) e “alimentava os famintos com amor e caridade” (gesto de proteção/redistribuição). Assim, a leitura correta é a da oscilação entre violência e bondade dirigida aos pobres — exatamente o que a alternativa B descreve.
Análise das alternativas incorretas:
A — “desprezo pela própria vida e pela vida alheia”: os versos não sugerem desprezo pela própria vida; falam de violência, não suicídio ou indiferença suicida. Errada por generalizar além do texto.
C — interpreta símbolos (minhoca, onça) ao contrário: o cordel usa imagens para mostrar como Lampião altera comportamentos sociais; não apoia leitura literal de covardia/valentia apenas. Portanto é simplista e distorce o sentido.
D — fala de obediência ao Evangelho e à lei republicana: contraditório com “matava de brincadeira” e sem base nos versos; cangaceiros não eram expressão de obediência legal ou clerical formal.
E — “fraqueza diante dos policiais e valentia contra camponeses”: os versos sinalizam respeito popular (não violência contra camponeses) e valentia diante de inimigos, não submissão aos policiais; interpretação invertida.
Dica de prova: procure palavras-chave que indiquem contraste (ex.: “e”, “por onde”) e relacione com conceitos históricos reconhecidos (aqui, “bandido social”). Evite leituras literais de imagens simbólicas sem contextualização histórica.
Fontes indicadas: Eric Hobsbawm, Bandidos (1976); estudos sobre o cangaço e história social do Nordeste (bibliografia básica em apostilas de História Geral e do Brasil).
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