Questão 78aa4d99-3d
Prova:FGV 2014
Disciplina:História
Assunto:História Geral, Revolução Intelectual do século XVIII: Iluminismo

    (...) dividamos a experiência (passeio na montanha-russa) em três partes. A primeira é a da ascensão contínua, metódica e persistente (...). Essa fase representa o período do século XVI até meados do século XIX, quando as elites da Europa promovem o desenvolvimento tecnológico que lhes asseguraria o domínio do mundo. A segunda nos precipita em uma queda vertiginosa, com a perda das referências do espaço, do que nos cerca e até o controle das faculdades conscientes (...). Isto ocorreu ao redor de 1870, com a chamada Revolução Científico-Tecnológica. (...) A terceira é a do loop, o clímax da aceleração precipitada, que representaria o atual período, assinalado por um novo surto dramático de transformações, a Revolução da Microeletrônica (...) o que faz os dois movimentos anteriores parecerem projeções em câmera lenta. (...) O aparato tecnológico torna-se cada vez mais imprevisível, irresistível e incompreensível.

(Nicolau Sevcenko, A corrida para o século XXI, 2001, p. 14-17)

Segundo o texto,

A
a metáfora da montanha-russa nos incita a refletir sobre o mundo moderno e contemporâneo e, por meio da Revolução Científico-Tecnológica e da Revolução da Microeletrônica, nos joga em meio às invenções, na espetacularização da sociedade, na idolatria das imagens, na velocidade das relações cotidianas e na ausência de reflexão que contempla o presentismo.
B
a imagem da montanha-russa valoriza a tecnologia como critério histórico para medir o tempo, sua continuidade e suas rupturas, elogia o progresso, nos estimula a viver segundo as referências do passado, nos faz prever o futuro e, dessa forma, facilita a compreensão dos saltos qualitativos, tornando o homem consciente da sua ação histórica.
C
o loop, ou seja, o movimento de maior velocidade das mudanças, sintetiza o processo histórico, desde o século XVI até os inícios do século XXI pois, após dominar o mundo, o homem se lança na microeletrônica, no quase invisível, o que permite a ele o controle das situações adversas, a preservação do meio ambiente e o planejamento de uma sociedade menos violenta.
D
o século XXI inicia-se de maneira otimista, com as transformações da Revolução Microeletrônica que permitem ao homem o domínio do meio ambiente, a facilidade dos meios de comunicação, cada vez mais democratizados, a reflexão sobre seu próprio destino enfim, um mundo mais solidário que deixou para trás as guerras e os genocídios, guiado agora pela tecnologia.
E
o homem do século XXI tem mais condições materiais de refletir sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre as relações entre homem/homem e homem/mundo, já que a tecnologia o instrumentaliza com a democratização das informações, tornando possível compreender as mudanças, mesmo que rápidas, e o mobiliza para uma ação mais consciente.

Gabarito comentado

G
Gabrielle FrancoMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa A

Tema central: interpretação de uma metáfora sobre a aceleração histórica ligada a revoluções tecnocientíficas — como a passagem descreve fases (ascensão, queda, loop) e destaca efeitos sociais: espetacularização, velocidade e falta de reflexão (presentismo).

Resumo teórico: Nicolau Sevcenko usa a metáfora da montanha‑russa para mostrar rupturas e acelerações tecnológicas: do domínio mercantil/industrial (séculos XVI–XIX) à Revolução Científico‑Tecnológica (c.1870) e, finalmente, à Revolução da Microeletrônica (contemporânea), que intensifica ritmo e torna o aparato tecnológico imprevisível e incompreensível. Conceitos úteis: modernidade, revolução técnica, sociedade do espetáculo (Guy Debord) e sociedade da informação (Manuel Castells).

Por que a alternativa A é correta: A reescreve fielmente a crítica do texto: aponta que as revoluções tecnológicas geraram invenções e uma cultura da imagem e da velocidade — “espetacularização” e “idolatria das imagens” — e conduzem a um presentismo, com ausência de reflexão crítica. Essa leitura está alinhada ao tom crítico do autor, que enfatiza imprevisibilidade e perda de referências.

Análise das alternativas incorretas:

  • B: Erra ao elogiar a tecnologia como critério positivo que torna o homem consciente de sua ação histórica. O texto é crítico e mostra perda de controle e referências — não celebração.
  • C: Afirma que a microeletrônica permite controle, preservação ambiental e menor violência. Contrapõe o texto, que diz justamente o oposto — que o aparato se torna imprevisível e irresistível.
  • D: Apresenta visão otimista (fim das guerras, mundo solidário). Textualmente infundada: Sevcenko não afirma que a tecnologia conduza a um mundo mais solidário.
  • E: Diz que a tecnologia democratiza a informação e facilita a reflexão consciente. Embora haja democratização parcial, o texto ressalta a crescente incompreensibilidade e ausência de reflexão — logo, esta alternativa é tendenciosa e simplista.

Estrategia de prova: procure o tom do autor (crítico vs. celebratório) e palavras-chave do enunciado (imprevisível, irresistível, incompreensível, presentismo). Alternativas que reescrevem esse tom crítico tendem a ser corretas; as que oferecem otimismo acrítico são possíveis "pegadinhas".

Referências rápidas: Nicolau Sevcenko, A corrida para o século XXI (2001); Guy Debord, A sociedade do espetáculo (1967); Manuel Castells, The Rise of the Network Society (1996).

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