Questão 787d53a4-3d
Prova:FGV 2014
Disciplina:História
Assunto:História da América Latina, América Latina na segunda metade do século XX: revoluções, transformações e permanências

É a América Latina, as regiões das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em capital estrangeiro e como tal acumula-se até hoje. A causa nacional latino-americana é, antes de tudo, uma causa social.

(Eduardo Galeano, As veias abertas da América Latina, 1978, p. 14 e 281. Adaptado)

A partir do texto, é correto afirmar que

A
a luta na América pela ruptura do domínio espanhol manteve o poder econômico dos criollos, somado ao poder político que preservou a estrutura colonial, inclusive a escravidão, e garantiu o livre comércio aos britânicos, enquanto a maioria desapropriada, que lutou pela terra, continuou pobre e excluída, submetida à elite, dominante internamente e dominada externamente.
B
o processo de independência da América Latina transformou a estrutura colonial, na medida em que a elite criolla aboliu a escravidão e promoveu a reforma agrária, diminuindo as distâncias sociais, ou seja, elaborou um projeto social próprio, o que afastou os interesses britânicos, estimulou os investimentos nacionais e fez o Estado assumir sua própria identidade latino-americana.
C
o movimento de emancipação latino-americano restringiu-se aos aspectos culturais, ou seja, não ocorreu a descolonização, pois a estrutura colonial permaneceu, exceção à escravidão, obstáculo ao avanço do liberalismo, abolida pelos criollos para garantir o consumo dos produtos franceses, já que o projeto político dos proprietários estava em sintonia com os interesses externos capitalistas.
D
a ruptura latino-americana com a metrópole espanhola foi revolucionária, na medida em que as classes dominantes locais, os criollos, perderam o poder que tinham na estrutura colonial, graças à luta social dos não-proprietários que promoveram a descolonização e implantaram um projeto político identificado com os interesses populares, como o fim da escravidão, a reforma agrária e o voto universal.
E
o movimento de quebra dos laços coloniais ocorreu de forma violenta, no qual a maioria não-proprietária teve papel decisivo, transformando a luta em uma causa social, destruindo a estrutura colonial e construindo um projeto político que atendeu tanto aos interesses dos criollos como aos dos ingleses, isto é, fornecer produtos para o mercado externo e consumir os produtos industrializados.

Gabarito comentado

V
Vanessa CamposMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa A

Tema central: trata-se da continuidade da estrutura colonial econômica e social após as independências latino-americanas — isto é, como as elites criollas preservaram privilégios, abrindo espaço para o capital estrangeiro e mantendo a exclusão da maioria.

Resumo teórico: a interpretação segue a tradição da teoria da dependência — autores como Eduardo Galeano, Fernando Henrique Cardoso & Enzo Faletto e Celso Furtado explicam que a ruptura política com a metrópole não significou desocupação das relações de dependência: terras e poder permaneceram nas mãos dos proprietários locais; o capital estrangeiro (principalmente britânico no século XIX) passou a dominar mercados e investimentos; a massa pobre seguiu excluída. Fontes: Galeano, As veias abertas da América Latina (1978); Cardoso & Faletto, Dependência e Desenvolvimento.

Por que a alternativa A é correta: A afirma que a independência manteve o poder econômico dos criollos e o poder político preservou a estrutura colonial — incluindo a manutenção da escravidão por longo período — enquanto o livre comércio e investimentos favoreceram interesses britânicos. Resume corretamente que a luta tornou-se também uma causa social porque a maioria permaneceu desapropriada e excluída.

Análise das alternativas incorretas:

B — incorreta: afirma que os criollos aboliram a escravidão e fizeram reforma agrária. Na prática, foram raras reformas estruturais imediatas; a escravidão só foi abolida gradualmente em diferentes países, quase sempre por pressões diversas, não por um projeto igualitário dos proprietários.

C — incorreta: reduz a emancipação a um fenômeno apenas cultural e apresenta uma justificativa anacrônica (abolição para garantir consumo de produtos franceses). Não explica a continuidade da estrutura econômica nem o papel do capital britânico.

D — incorreta: descreve a ruptura como revolucionária em favor dos não-proprietários (fim da escravidão, reforma agrária, voto universal). Isso contradiz a realidade histórica: as elites mantiveram poder e projetos sociais populares não foram implementados de imediato.

E — incorreta: exagera o papel decisivo da maioria não-proprietária em derrubar a ordem e afirma que o projeto atendeu igualmente criollos e ingleses. A independência não resultou em projeto inclusivo nem beneficiou igualmente as populações.

Dica para provas: busque palavras-chaves como mantém, aboliu, revolucionária e compare com fatos históricos (datas de abolição, presença de capitais britânicos, ausência de reforma agrária). Alternativas que afirmam reformas sociais abrangentes logo após a independência costumam ser falsas.

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