A interrupção desse fluxo comercial levaria os negociantes e financistas da República a fundarem a Companhia das Índias Ocidentais (1621). (...)

O historiador Charles Boxer considera que esse conflito, por produtos e mercados, entre o Império Habsburgo e as Províncias Unidas, foi tão generalizado que pode ser considerado, de fato, a Primeira Guerra Mundial, pois atingiu os quatros cantos do mundo.

(Regina Célia Gonçalves, Fim do domínio holandês In Circe Bittencourt (org), Dicionário de datas da história do Brasil, p. 34)

Acerca do fragmento, que aborda o conflito entre o Império Espanhol e as Repúblicas das Províncias Unidas, nas primeiras décadas do século XVII, é correto afirmar que

os fundamentos da presença holandesa em todos os domínios coloniais portugueses devem ser associados à conjuntura de guerra religiosa dominante na Europa, cabendo aos representantes batavos, prioritariamente, impor o calvinismo nas regiões recém-conquistadas, caso de Angola.

as práticas holandesas de desrespeito aos domínios coloniais das outras potências europeias, especialmente Portugal e França, determinaram uma onda permanente de guerras entre essas potências, gerando o isolamento estratégico das companhias de comércio de capital holandês.

a presença holandesa no Nordeste brasileiro, visando o comando da produção açucareira, fez parte de um processo mais amplo, porque esteve associada ao domínio de espaços fornecedores de escravos na África, além de outros domínios no Oriente, até então sob o domínio português.

o maior interesse da companhia de comércio holandesa era a exploração mineral na América portuguesa e, para atingir esse objetivo, optou pela entrada no Brasil por meio do Nordeste açucareiro, porque era uma região menos protegida militarmente e mais aberta à influência estrangeira.

a disputa por espaços coloniais no Caribe e na região oeste da América do Norte gerou uma guerra europeia de grandes proporções, envolvendo as principais monarquias do continente e obrigando a Espanha a se aliar à França e à Inglaterra, com o intuito de se defender da marinha de guerra holandesa.

Gabarito comentado

Rafael Lima Monitor do Qconcursos

Tema central: O tema aborda o contexto da presença holandesa no Brasil durante o século XVII, com foco na Companhia das Índias Ocidentais (WIC) e sua atuação estratégica para controlar o comércio colonial, especialmente o açúcar e o tráfico negreiro.

Justificativa da alternativa correta (C):

A alternativa C está correta porque expressa uma visão sistêmica da estratégia holandesa: a ocupação do Nordeste brasileiro (principal polo açucareiro do mundo, à época) era parte fundamental de um projeto amplo de dominação e integração de diversos territórios produtores e fornecedores. Os holandeses, ao controlarem regiões produtoras de açúcar como Pernambuco, também buscaram dominar áreas da África Ocidental (caso de Angola), regiões essenciais para o fornecimento de mão de obra escravizada ao sistema colonial do açúcar. Além disso, mantinham ações no Oriente (Índias Orientais) para enfraquecer o monopólio ibérico nas rotas mercantis.

Conexão com teoria: Segundo Regina Célia Gonçalves e Charles Boxer, essa ação integrada faz parte do que pode ser chamado de “primeira guerra global” pela hegemonia comercial, onde não havia separação entre as frentes de atuação. A WIC era um instrumento de combate econômico, político e militar contra o império Ibérico.

Análise das alternativas incorretas:

A) Imposição religiosa não era o objetivo principal; os holandeses priorizavam interesses econômicos e logísticos, o calvinismo tinha papel secundário.

B) Não ocorreu isolamento estratégico das companhias holandesas; elas expandiram alianças comerciais e militares em várias regiões do mundo.

D) O maior interesse era o comércio do açúcar, não minerais. O Nordeste era visado pela produção e riqueza já instalada, não só pela fragilidade militar.

E) A formação de alianças citada é incorreta: França e Inglaterra, em muitos momentos, rivalizavam com Espanha e Portugal, e não se uniram sistematicamente apenas para enfrentar os holandeses.

Estratégias para provas: Atenção a termos como “prioritariamente” e “maior interesse”. Desconfie de explicações simplistas ou que distorcem o contexto, e busque sempre analisar como os interesses econômicos, políticos e sociais se inter-relacionam nos processos históricos.

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