Questão 76c42778-ad
Prova:FGV 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Colocação Pronominal, Redação - Reescritura de texto, Morfologia - Pronomes

Assinale a alternativa em que a passagem está reescrita, de acordo os sentidos do original e com a norma-padrão de emprego e colocação de pronomes.

                   
          O velho Lima

      O velho Lima, que era empregado – empregado antigo – numa das nossas repartições públicas, e morava no Engenho de Dentro, caiu de cama, seriamente enfermo, no dia 14 de novembro de 1889, isto é, na véspera da Proclamação da República dos Estados Unidos do Brasil.
      O doente não considerou a moléstia coisa de cuidado, e tanto assim foi que não quis médico. Entretanto, o velho Lima esteve de molho oito dias.
      O nosso homem tinha o hábito de não ler jornais e, como em casa nada lhe dissessem (porque nada sabiam), ele ignorava completamente que o Império se transformara em República.
      No dia 23, restabelecido e pronto para outra, comprou um bilhete, segundo o seu costume, e tomou lugar no trem, ao lado do comendador Vidal, que o recebeu com estas palavras:
      – Bom dia, cidadão.
      O velho Lima estranhou o cidadão, mas de si para si pensou que o comendador dissera aquilo como poderia ter dito ilustre, e não deu maior importância ao cumprimento, limitando-se a responder:
      – Bom dia, comendador.
      – Qual comendador! Chama-me Vidal! Já não há mais comendadores!
      – Ora essa! Então por quê?
      – A República deu cabo de todas as comendas! Acabaram-se!
      O velho Lima encarou o comendador e calou-se, receoso de não ter compreendido a pilhéria.
      Ao entrar na sua seção, o velho Lima sentou-se e viu que tinham tirado da parede uma velha litografia representando D. Pedro de Alcântara. Como na ocasião passasse um contínuo, perguntou-lhe:
      – Por que tiraram da parede o retrato de Sua Majestade?
      O contínuo respondeu num tom lentamente desdenhoso:
      – Ora, cidadão, que fazia ali a figura do Pedro Banana?
      – Pedro Banana! – repetiu raivoso o velho Lima.
      – Não dou três anos para que isso seja República!

                                                  (Arthur Azevedo. Seleção de contos, 2014)

A

O nosso homem tinha o hábito de não ler jornais e, como em casa nada lhe dissessem... (3° parágrafo)

= O nosso homem desconhecia o hábito de não ler jornais e, como em casa nada falou-se a ele...

B

... ele ignorava completamente que o Império se transformara em República. (3° parágrafo)

= ... ele ignorava completamente que o Império tinha transformado-se em República.

C

... e tomou lugar no trem, ao lado do comendador Vidal, que o recebeu com estas palavras... (4° parágrafo)

= ... e tomou lugar no trem, ao lado do comendador Vidal, que acolheu-lhe com estas palavras...

D

O velho Lima estranhou o cidadão, mas de si para si pensou que o comendador dissera aquilo como poderia ter dito ilustre... (6° parágrafo)

= Espantou-se o velho Lima com o cidadão, mas pensou com seus botões que lhe dissera aquilo o comendador como poderia ter dito ilustre...

E

– Qual comendador! Chama-me Vidal! Já não há mais comendadores! (8°parágrafo)

= – Qual comendador! Me chama de Vidal! Agora não tem-se mais comendadores!

Gabarito comentado

F
Fábio de AguiarMonitor do Qconcursos

Gabarito: D

Análise e Tema Central: Esta questão exige domínio de interpretação de texto e colocação pronominal na norma-padrão, além de coerência quanto ao sentido original do trecho.

Justificativa da Alternativa Correta (D):

A alternativa D é a única que reescreve o trecho mantendo o sentido e respeitando a colocação dos pronomes exigida pela norma culta. Veja:

“Espantou-se o velho Lima...” – O verbo inicia o período, permitindo a ênclise (“Espantou-se”), conforme ensina Bechara: “A ênclise é inevitável no início de frase” (Moderna Gramática Portuguesa).
“...mas pensou com seus botões que lhe dissera aquilo o comendador...” – A próclise (“lhe dissera”) ocorre por atração do pronome relativo, de acordo com a norma-padrão.
O sentido também é preservado, transmitindo o estranhamento de Lima e seu raciocínio interno – elementos essenciais do texto.

Análise das Alternativas Incorretas:

A) “falou-se a ele”Erro de colocação: após “nada”, deve-se usar próclise: “nada se lhe falou”; além disso, modifica indevidamente o sentido (“desconhecia o hábito” ≠ “tinha o hábito”).

B) “tinha transformado-se”Erro de colocação: em locuções verbais com auxiliar no pretérito mais-que-perfeito composto, o correto é “tinha-se transformado”, conforme aponta Cunha & Cintra (Nova Gramática).

C) “acolheu-lhe”Erro de regência: O verbo “acolher” é transitivo direto, não admite objeto indireto com “lhe” (“acolheu-o” seria o correto); ainda, altera o sentido original do verbo “receber”.

E) “Me chama de Vidal!” / “não tem-se mais”Erros de colocação: a frase inicia com pronome (“Me chama”), inadequado na norma culta; e uso indevido de mesóclise (“tem-se”): o natural seria “Chama-me de Vidal! Não se tem mais...”

Estratégia para provas: Fique atento à posição dos pronomes oblíquos (próclise, ênclise e mesóclise), principalmente em períodos compostos e frases iniciadas por verbo, pois são pegadinhas comuns em provas, como alerta Bechara.

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