Numa piada corrente na era soviética, um ouvinte telefona para a Rádio Armênia e pergunta: “É possível prever o futuro?” Resposta: “Sim, sem problema. Sabemos exatamente como será o futuro. Nosso problema é o passado: está sempre mudando.”

JUDT, Tony. Pós-guerra: uma história da Europa desde 1945. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2008, p. 815.

No que se refere à relação entre História e memória, a leitura da piada acima indica:

A necessidade de estabelecer os fatos do passado tal como eles aconteceram, o que é conseguido desmentindo as falsificações por meio de documentos que expressem a verdade.

A diferença entre memória e História, a primeira representando as mentiras sociais e a segunda representando o passado verdadeiro alcançado pela prática científica.

A relação entre memória e História, focalizando a impossibilidade de controlar as representações sobre o passado, sempre reavaliado de acordo com as necessidades do presente.

As transformações que compõem o tempo histórico por meio de revoluções e outros elementos de mudança social.

A necessidade do historiador estar atento para a relação entre passado, presente e futuro, enfatizando a determinação científica das mudanças sociais.

Gabarito comentado

Vanessa CamposMonitor do Qconcursos

Resposta: Alternativa C

Tema central: relação entre memória e História. A piada indica que as representações do passado mudam conforme o presente — ou seja, a memória social é dinâmica e reavaliada constantemente.

Resumo teórico: conceitos-chave incluem memória coletiva (Maurice Halbwachs) — lembranças compartilhadas que respondem a necessidades sociais — e lugares de memória (Pierre Nora) — símbolos onde o passado é fixado mas também reinventado. A História é prática crítica que analisa fontes, mas não é imune ao presente (Tony Judt discute como interpretações mudam segundo contextos políticos).

Justificativa da alternativa C: a piada diz que o futuro é previsível, mas o passado "está sempre mudando" — expressão clara da ideia de que o passado é reinterpretado conforme exigências presentes. Isso corresponde exatamente à alternativa C: imposição das representações do passado que se reavaliam conforme o presente.

Análise das demais alternativas (por que estão erradas):

A — reduz o problema a uma busca por uma “verdade” documental única; ignora que documentos também são lidos segundo perspectivas mutáveis.

B — apresenta memória como mera mentira e História como verdade científica absoluta; trata o tema de modo dicotômico e ingênuo, sem considerar a historicidade das próprias narrativas historiográficas.

D — fala de transformações sociais (revoluções), não de como o passado é representado e reavaliado.

E — enfatiza determinação científica das mudanças sociais; interpreta de modo teleológico o papel do historiador, não capta a fluidez das memórias apontada pela piada.

Dica de prova: ao avaliar alternativas, destaque palavras-guia como “sempre”, “necessidade”, “verdade absoluta”. Busque se a afirmação trata de reinterpretar o passado (memória) ou de encontrar uma única verdade (positivismo).

Fontes recomendadas: Maurice Halbwachs, La Mémoire Collective; Pierre Nora, Les Lieux de Mémoire; Tony Judt, Postwar.

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