Leia atentamente o relato sobre a situação dos judeus na Península Ibérica escrito entre 1494 e 1495 pelo médico alemão Jerónimo Münzer quando este esteve em Lisboa:

“Os Judeus de Lisboa são riquíssimos, cobram os tributos reais, que arremataram ao Rei. São insolentes com os cristãos. Têm muito medo da proscrição, pois o Rei de Espanha ordenou ao Rei de Portugal que expulsasse os marranos* e da mesma forma os judeus, aliás teria guerra com ele. O Rei de Portugal, fazendo a vontade ao de Espanha, ordenou que antes do Natal saíssem do reino todos os marranos. Eles fretaram a nau Rainha, belíssimo navio, e no meado de Dezembro irão para Nápoles; aos Judeus, porém, deu o Rei o prazo de dois anos para assim os expulsar do reino menos violentamente. Em vista disso os judeus vão-se retirando sem demora e procuram no estrangeiro lugares próprios para a sua residência.”

(MÜNZER, Jerónimo. Viagem por Espanha e Portugal nos anos de 1494 e 1495.)

* Judeus convertidos obrigatoriamente ao cristianismo.

Sobre as perseguições aos judeus na Idade Moderna europeia é CORRETO afirmar que:

Resposta correta: C

Tema central: trata-se da perseguição religiosa contra os judeus na Idade Moderna ibérica — expulsões (Espanha 1492; Portugal finais do séc. XV), convertidos forçados (marranos/conversos) e a ação da Inquisição, que provocou migrações e desterritorialização dos judeus sefarditas.

Resumo teórico: A Europa ibérica dos finais do século XV vivia sob monarquias católicas que promoviam unidade religiosa. O Decreto de Alhambra (1492) expulsou os judeus da Espanha; em Portugal (1496/1497) houve proibição de saída livre — muitos forçados à conversão. A Inquisição (Portugal a partir de 1536) perseguiu suspeitos de judaizar. Resultado: milhares partiram para o Império Otomano, Norte de África, Itália, Holanda — ou viveram como cristãos-novos sob vigilância perpétua (desterritorialização). (Ver: Decreto de Alhambra 1492; estudos de António Reis/Saraiva e Schäfer; Britannica sobre Inquisição.)

Justificativa da alternativa C (correta): A alternativa afirma que a perseguição e a Inquisição produziram a desterritorialização de descendentes de judeus, convertidos ou não. Isso sintetiza corretamente o efeito histórico: tanto aqueles que mantiveram a fé quanto os "conversos" pressionados a abandonar práticas judaicas foram forçados a deslocar‑se ou a adaptar identidades, por medo de processos inquisitoriais e sanções. A diáspora sefardita é consequência direta desse contexto.

Análise das alternativas incorretas:

A — Incorreta. A expulsão não se explica por pobreza; ao contrário, judeus exerciam atividades financeiras e fiscais e muitos eram ricos. Motivações foram religiosas e políticas (unidade confessional), não mera dependência econômica.

B — Incorreta. O protestantismo nunca foi religião oficial na Península Ibérica; os monarcas eram católicos e combateram o protestantismo. As conversões exigidas foram ao catolicismo, não ao protestantismo.

D — Incorreta. As acusações centrais eram heresia e “judaizar” (preservar práticas judaicas secretas), rituais supostos e traição religiosa — não o uso de práticas pagãs nem leitura do Alcorão (estas últimas ligadas aos muçulmanos, não aos judeus).

E — Incorreta. Os monarcas espanhóis e portugueses promoveram políticas coercitivas (expulsão/forçada conversão, Inquisição). Não houve tolerância real por parte da Coroa espanhola.

Estratégia para provas: identifique datas-chave (1492, 1496/97), termos (“marranos”/conversos, Inquisição, desterritorialização) e relacione causa (política confessional) com efeito (expulsão/migração). Desconfie de alternativas que invertam causa/efeito ou inventem religiões oficiais erradas.

Fontes rápidas: Decreto de Alhambra (1492); estudos sobre Inquisição e diáspora sefardita — Saraiva & Schäfer; Encyclopedia Britannica (Inquisition; Jews in Spain & Portugal).

Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!