Leia o trecho abaixo.
“De um lado do rio índios completamente abrasileirados, com motocicletas, shorts Adidas e sandálias Havaianas. Do outro, indígenas que ainda falam as suas línguas originais e não chamam ninguém de 'cara'. Os dois grupos estão muito próximos: os rios Tacatu e o seu afluente Irengue são atravessáveis a pé, especialmente nas épocas mais secas do ano, e fazem a divisa entre o Brasil e a Guiana. Entender como uma mera fronteira conseguiu criar contrastes tão extremos entre etnias (como os macuxi) é um dos objetivos de pesquisadores da Universidade de Stanford [...]. Quando ficam doentes, os índios da Guiana costumam vir ao Brasil para se tratar. 'Quando eles descobrem que os índios de Roraima falam português, ficam chocados', diz Fragoso. [...] A diferença existe porque a história dos dois países é completamente diferente. Enquanto no Brasil prevaleceu o 'ocupar para não entregar', lema que pautou a política dos militares para a Amazônia, na Guiana isso nunca foi prioridade. Cerca de 90% dos 700 mil habitantes do país vivem no litoral, longe desses índios da fronteira."
Antropólogo tenta entender como índio fica “abrasileirado". Visão estratégica sobre a Amazônia dividiu tribo ao meio no Brasil e na Guiana.
Folha de São Paulo. Sábado, 12 de março de 2011, C9.
As questões suscitadas na notícia acima, relacionadas a aspectos da história recente do Brasil, ajudam a explicar as contrastantes diferenças entre os macuxi do Brasil e os da Guiana.
Com base nisso, assinale a afirmativa correta.
“De um lado do rio índios completamente abrasileirados, com motocicletas, shorts Adidas e sandálias Havaianas. Do outro, indígenas que ainda falam as suas línguas originais e não chamam ninguém de 'cara'. Os dois grupos estão muito próximos: os rios Tacatu e o seu afluente Irengue são atravessáveis a pé, especialmente nas épocas mais secas do ano, e fazem a divisa entre o Brasil e a Guiana. Entender como uma mera fronteira conseguiu criar contrastes tão extremos entre etnias (como os macuxi) é um dos objetivos de pesquisadores da Universidade de Stanford [...]. Quando ficam doentes, os índios da Guiana costumam vir ao Brasil para se tratar. 'Quando eles descobrem que os índios de Roraima falam português, ficam chocados', diz Fragoso. [...] A diferença existe porque a história dos dois países é completamente diferente. Enquanto no Brasil prevaleceu o 'ocupar para não entregar', lema que pautou a política dos militares para a Amazônia, na Guiana isso nunca foi prioridade. Cerca de 90% dos 700 mil habitantes do país vivem no litoral, longe desses índios da fronteira."
Antropólogo tenta entender como índio fica “abrasileirado". Visão estratégica sobre a Amazônia dividiu tribo ao meio no Brasil e na Guiana.
Folha de São Paulo. Sábado, 12 de março de 2011, C9.
As questões suscitadas na notícia acima, relacionadas a aspectos da história recente do Brasil, ajudam a explicar as contrastantes diferenças entre os macuxi do Brasil e os da Guiana.
Com base nisso, assinale a afirmativa correta.
Gabarito comentado
Resposta correta: D
Tema central: a questão avalia compreensão da história recente da Amazônia e dos efeitos de políticas estatais (especialmente as adotadas pelo regime militar nas décadas de 1960–70) sobre povos indígenas. É preciso relacionar ação do Estado, ocupação territorial e impactos culturais e demográficos.
Resumo teórico: durante o regime militar houve ênfase em projetos de ocupação da Amazônia (visão de segurança nacional, projetos rodoviários, incentivos à migração e à colonização). Essa presença intensificada do Estado e de não-indígenas transforma modos de vida, línguas e práticas culturais. A Constituição de 1988 (art. 231) reconhece direitos indígenas, mas as dinâmicas de integração e contato ocorreram sobretudo antes disso. Já em países vizinhos, sem políticas massivas de interiorização, comunidades ficaram menos impactadas.
Fontes úteis: Constituição Federal de 1988 (art. 231); estudos sobre “ocupar para não entregar” e políticas amazônicas dos anos 60–70; literatura antropológica sobre macuxi e fronteiras (artigos e reportagens acadêmicas).
Por que a alternativa D está correta:
A alternativa D relaciona diretamente a diferença observada ao caráter da política brasileira de colonização/ocupação da Amazônia nas décadas de 60–70 (visão de segurança nacional), que promoveu fluxo de agentes estatais, militares, colonos e infraestrutura. Essa presença acelerou processos de contato, língua e incorporação cultural entre indígenas e não-indígenos — explicando o “abrasileiramento”. A Guiana, com menor intervenção na faixa fronteiriça e população concentrada no litoral, não promoveu igual projeto de ocupação, justificando o contraste mencionado.
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta: afirma que a Guiana teria políticas claras de proteção e o Brasil nenhuma; simplifica e inverte a questão. O problema não é ausência total de proteção no Brasil, e afirmar que a Guiana ofereceu mais proteção não é sustentado pelo texto.
B — Incorreta: fala de isolamento por distância; o texto ressalta o contrário — os rios são atravessáveis e a fronteira é permeável, portanto não há isolamento geográfico que explique diferenças.
C — Incorreta e equivocada conceitualmente: confunde “usar roupas/idioma” com superioridade “civilizatória” e recai em racismo científico. A explicação histórica é política e estrutural, não hierárquica.
E — Incorreta: reduz o fenômeno a traços culturais nacionais e estereótipos de colonização; é explicação culturalista e imprecisa, sem base empírica para afirmar que portugueses “facilitaram miscigenação” enquanto ingleses impediram.
Estrategia de interpretação: procure no enunciado sinais de causa histórica (palavras como “política”, “décadas”, “ocupar”) e evidências concretas (percentual de população no litoral). Elimine alternativas que apelam a estereótipos ou que invertam informação factual do texto.
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