Questão 687051c2-fd
Prova:UFT 2018
Disciplina:História
Assunto:Período Colonial: produção de riqueza e escravismo, História do Brasil

Na carta de Pero Vaz de Caminha, afirma-se que a terra"em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo."


Essa carta ficou três séculos depositada em um arquivo em Portugal. Apenas em 1817 foi publicada por historiadores interessados, no contexto da independência, em contar a história brasileira e que por isso endossaram aquela descrição do lugar que veio a se tornar o Brasil.

No século XX, contudo, foi lida como uma fonte para entender o imaginário dos navegantes sobre a América e não como uma descrição fidedigna da terra a que os portugueses chegaram.

Considerando o trecho da referida carta e as informações disponibilizadas é CORRETO afirmar que:

A
as interpretações que os historiadores produzem das fontes documentais aprimoram-se e aproximam-se mais da verdade com o passar do tempo.
B
os historiadores apenas descrevem aquilo que as fontes dizem dos acontecimentos, sendo assim produtores de uma verdade última sobre o passado.
C
os historiadores, ao produzir um conhecimento universal e atemporal, não são impactados pelas questões sociais do tempo histórico em que escrevem.
D
as interpretações que os historiadores fazem das fontes documentais mudam de acordo com as questões colocadas pelo momento histórico em que as produzem.

Gabarito comentado

A
Anderson MaiaMonitor do Qconcursos

Resposta correta: alternativa D.

Tema central: trata-se de historiografia — isto é, da maneira como os historiadores interpretam fontes documentais e de como essas interpretações são moldadas pelo contexto social, político e cultural em que os historiadores vivem.

Resumo teórico sucinto: fontes históricas (como a carta de Pero Vaz de Caminha) não falam por si mesmas: os historiadores escolhem, interpretam e reconstroem significados a partir delas. Como afirma E. H. Carr em What is History?, fatos e interpretações estão em diálogo: o presente do historiador influencia a leitura do passado. Assim, leituras feitas em 1817 (no contexto da independência do Brasil) difere de leituras do século XX, que privilegiaram outros problemas (ex.: o imaginário dos navegantes).

Por que a alternativa D está correta: ela afirma que as interpretações históricas mudam conforme as questões colocadas pelo momento histórico de produção. Isso corresponde exatamente ao argumento do texto de apoio: a carta, guardada em arquivo, foi publicada em 1817 por interesses ligados à construção de uma narrativa nacional; no século XX passou a ser lida com outro recorte analítico. Logo, D sintetiza corretamente a relação entre fonte e contexto de produção da interpretação.

Análise das alternativas incorretas:

A — afirma que interpretações se aproximam mais da verdade com o tempo. Incorreta: pressupõe progresso cumulativo e objetivo da interpretação; ignora que mudanças muitas vezes resultam de novas questões e perspectivas, não de aproximação linear a uma "verdade".

B — sugere que historiadores apenas descrevem o que as fontes dizem e produzem uma verdade última. Incorreta: é visão positivista; negligencia o papel ativo do historiador na seleção e sentido das fontes.

C — afirma que o conhecimento histórico é universal e atemporal, sem influência do contexto social. Incorreta: contradiz a ideia central de que o contexto do autor (e do historiador) condiciona a interpretação.

Dica de prova: procure palavras-chave que indiquem relação entre interpretação e contexto ("mudam de acordo com", "colocadas pelo momento histórico"). Elas sinalizam leitura historiográfica crítica.

Fontes recomendadas: E. H. Carr, What is History?; Marc Bloch, The Historian's Craft; estudos sobre a Carta de Pero Vaz de Caminha e sua publicação em 1817.

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