“Mas é verdade que a cidade medieval,
por sua lógica econômica fundada mais
no dinheiro do que na terra, por seu sistema de valores no qual, em face do ideal
aristocrático de hierarquia vertical, de
duração, de ociosidade e de largueza,
impunha a si mesmo outra concepção,
outro ideal de hierarquia horizontal, do
tempo, do trabalho e do cálculo, podia
minar por dentro o sistema feudal para
transformá-lo em sistema capitalista. Foi
preciso, entretanto, esperar pela revolução industrial.”
LE GOFF, Jacques. O Apogeu da Cidade Medieval. São
Paulo, Martins Fontes, 1992. p.58.
Em relação ao trabalho, a cidade feudal diferia do campo, entre outras razões, por:
Gabarito comentado
Alternativa correta: C
Tema central: trata-se da diferença entre trabalho urbano e trabalho rural na sociedade medieval. Para responder, é preciso saber que a condição jurídica e social dos trabalhadores urbanos era distinta da dos camponeses vinculados à terra.
Resumo teórico rápido: nas cidades medievais proliferaram burgos com ofícios organizados em corporações (guildas). Os artesãos eram, em regra, pessoas livres — podiam obter alforrias, comprar oficinas, formar mestres, exercer comércio e conquistar privilégios municipais (ver Le Goff; Braudel). Já os camponeses frequentemente viviam em situação servil ou dependente do senhorio (corveias, tributos, obediência). A industrialização só traz máquinas e capital fabril em larga escala séculos depois.
Por que a alternativa C é correta: afirma que, na cidade feudal, o trabalho era majoritariamente livre, ainda que houvesse opressões senhoriais — isto coincide com a historiografia: artesãos e comerciantes urbanos tinham mobilidade legal e corporativa, ao contrário dos camponeses servos. A cidade oferecia outra lógica social e econômica que favorecia relações contratuais e mercantis (Le Goff).
Análise das alternativas incorretas:
A: Incorreta — afirma que o capital em forma de máquina estava no domínio da burguesia nas cidades medievais. Máquinas e fábricas em sentido moderno só surgem com a Revolução Industrial; no medievo havia ferramentas e mecanismos simples, não maquinário fabril generalizado.
B: Incorreta — diz que o trabalho das corporações era executado por escravos. Nas cidades europeias medievais a escravidão interna era rara; os membros das corporações eram livres (mestres, oficiais, aprendizes).
D: Incorreta — afirma condição servil para o trabalhador das corporações. Novamente, corporações reuniam trabalhadores livres; a servidão caracterizava principalmente o campesinato ligado à terra.
E: Incorreta — repete a ideia de maquinário fabril nas cidades feudais; tal característica pertence ao sistema capitalista industrial, posterior ao medievo.
Dica de prova: ao ler alternativas, procure termos jurídicos-chaves: "livre", "servo", "escravo", "máquina". Relações de trabalho medievais distinguem cidade (liberdades municipais e corporativas) do campo (dependência senhorial).
Fontes sugeridas: Jacques Le Goff, O Apogeu da Cidade Medieval; Fernand Braudel, Civilização Material e Capitalismo — para contexto sobre urbanização e economia pré-industrial.
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