“No interior do Brasil pode-se ainda ver hoje em dia a dramatização da luta entre mouros e
cristãos em evento que costuma ocorrer por ocasião das festas juninas. Trata-se de uma tradição
comum nos dois lados do Atlântico, cuja realização periódica tem por fim reforçar as identidades
coletivas. No caso europeu, desempenha papel na reafirmação da identidade nacional e religiosa ao
atualizar um fato marcante de sua história. Quanto ao Novo Mundo, sua persistência desempenha dois
papéis complementares, contribui para fortalecer laços culturais cristãos, funcionando como ritual de
aproximação e integração. Ao mesmo tempo, contribui para acentuar a negação da presença islâmica
em solo ibérico”.
Fonte: MACEDO, José Rivair. Mouros e cristãos: a ritualização da conquista no velho e no Novo Mundo. In: Bulletin du centre d’études
médiévales d’Auxerre (BUCEMA). Hors-série, n° 2, 2008, p. 1-2. (Adaptado)
No texto, as referências aos mouros na cultura popular ibero-americana evidencia qual evento ocorrido
no medievo europeu?
Gabarito comentado
Alternativa correta: A
Tema central: o texto trata da memória coletiva e da dramatização, na cultura popular ibero‑americana, de um conflito medieval entre «mouros» e «cristãos». Essa lembrança ritualizada remete diretamente às Guerras de Reconquista na Península Ibérica, processo histórico que marcou identidade religiosa e política dos reinos cristãos (séculos VIII–XV, culminando em 1492).
Resumo teórico rápido: a Reconquista foi um longo conjunto de campanhas militares e processos políticos pelos quais reinos cristãos ibéricos recuperaram territórios sob domínio muçulmano desde a chegada islâmica (711) até a queda do último emirado, Granada (1492). Esse passado foi ritualizado depois como prova fundadora da identidade cristã ibérica — motivo da representação festiva de «mouros e cristãos» (Macedo, 2008; O’Callaghan, 2003; Fletcher, 1989).
Por que a alternativa A é correta: o enunciado fala em «dramatização da luta entre mouros e cristãos» e em «atualizar um fato marcante de sua história» — formulação que descreve exatamente a reconquista, isto é, as guerras e campanhas entre cristãos e muçulmanos na Península. Autores clássicos e modernos tratam essa lembrança como ritualização da conquista (Macedo, 2008; O’Callaghan, 2003).
Análise das alternativas incorretas:
B (influências culturais dos símbolos islâmicos): embora haja influências mútuas artísticas e arquitetônicas, o texto enfatiza a dramatização do conflito, não a simples presença de símbolos — logo, B desvia do foco.
C (alianças políticas e econômicas): aliança ocorreu pontualmente, mas o enunciado refere-se à reafirmação de um episódio de conquista e luta; portanto a alternativa reduz indevidamente o sentido histórico do texto.
D (disputas territoriais em certos períodos do ano): confunde reencontro festivo (representação anual) com a própria dinâmica histórica — as batalhas da Reconquista ocorreram ao longo de séculos, não sazonalmente; erro conceitual.
E (construções coletivas como referência oriental): muito genérico. O texto trata de um evento específico (a conquista e sua ritualização), não apenas de uma referência cultural oriental abstrata.
Dica de prova: ao ver termos como «mouros», «cristãos», «ritualizar», «conquista» e «Velho Mundo» procure imediatamente a ideia de Reconquista; descarte alternativas que sejam vagas ou que transformem reencontros festivos em justificativa de processos históricos reais.
Fontes sugestivas: Macedo, J. R. (2008); O’Callaghan, J. F., Reconquest and Crusade in Medieval Spain (2003); Fletcher, R., The Quest for El Cid (1989).
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