“Século XXI: maior tolerância e quebra de tabus
são a marca da primeira década. Bancas de jornais exibem “mulheres frutas” de todos
os tamanhos. Nas propagandas, casais seminus lambem os beiços e trocam olhares açucarados.
Nas novelas de televisão, em horário, nobre, nenhum personagem hesita em
retificar suas preferências sexuais, em expô-los e em expor-se. Na frente das câmaras,
segredos pessoais são revelados sem constrangimento. Práticas antes
marginalizadas estão nas telas. A Internet abriu um universo de possibilidades
para o sexo. Nos sites, “ricos e famosos” falam abertamente de sua vida
particular. A privacidade entrou na rede social” (DEL PRIORY Mary. Histórias
íntimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil. São Paulo: Editora
Planeta do Brasil, 2011, p. 10)
Considerando as temáticas abordadas pela
historiadora Mary Del Priory, assinale a única afirmativa correta nos itens a
seguir.
Na fase da colonização brasileira pelos portugueses,
enquanto nossos índios davam exemplo de higiene, banhando-se nos rios, os
europeus eram perseguidos pelas leis das reformas católica e protestante que
lhes interditavam nadar nus.
Gabarito comentado
Resposta: Alternativa E.
Tema central: a questão trata das práticas de higiene e das normas morais no Brasil colonial, em especial o contraste entre hábitos indígenas (banhos em rios) e as normas europeias influenciadas pela ética cristã e pelas reformas religiosas.
Resumo teórico: No contato colonial houve conflito e sincretismo cultural. Muitos povos indígenas praticavam banhos regulares em rios (higiene quotidiana), enquanto europeus traziam normas de pudor e moderação vindas do cristianismo e das reformas (católica e protestante). Essas normas não proibiam genericamente o banho, mas regulavam nudez, exposição pública e comportamentos considerados indecorosos.
Justificativa da alternativa E: A alternativa reflete esse contraste: indígenas utilizavam rotineiramente os rios para higiene; já os europeus, sensibilizados por códigos morais religiosos e por sensibilidades de pudor trazidas da Europa, evitavam práticas públicas de nudez como nadar nus ou banhos coletivos sem recato. Essa leitura é compatível com a historiografia (por exemplo, Mary Del Priory, Histórias íntimas) e com estudos clássicos sobre costumes coloniais (p.ex. análises de Gilberto Freyre sobre diferenças culturais e de higiene).
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta: afirma que entre os séculos XVI e XVIII havia completa desregulação sexual e autorização total pela Igreja e pelas leis. Na verdade, a Igreja e as instituições coloniais impuseram muitas normas morais e punitivas; não houve “liberalização” generalizada.
B — Incorreta: supõe assimilação fácil e completa dos ritos europeus por índios e escravos. O processo foi complexo: resistência, adaptação e sincretismo marcaram a incorporação dessas normas, não uma aceitação imediata e homogênea.
C — Incorreta: generaliza que o cristianismo incentivou banhos religiosos como símbolo de pureza. Historicamente, a visão cristã medieval e das reformas foi ambivalente; muitas práticas de banho foram condenadas quando associadas à lascívia, e o banho público foi regulado.
D — Incorreta: afirma que homens e mulheres tomavam banho juntos sem cobertura na Idade Média. Isso é uma simplificação; banhos públicos existiam, mas eram alvo de controvérsia e frequentemente regulados, com normas de pudor e proibições em contextos considerados indevidos.
Fontes sugeridas: Mary Del Priory, Histórias íntimas (2011); Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala (para discussões culturais); documentos e estudos sobre a Lei e moralidade na Colônia e as reformas religiosas (p.ex. reflexões sobre o Concílio de Trento quanto à disciplina e pudor).
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