Garantidos pela lei
Aqueles malvados estão
Nós temos as leis de Deus
Eles têm a lei do Cão!
Bem desgraçados são eles
Pra fazerem a eleição
Abatendo a lei de Deus
Implantando a lei do Cão!
Casamento vão fazendo
Para o povo iludir
Vão casar o povo todo
No casamento civil!
D. Sebastião já chegou
E traz muito regimento
Acabando com o civil
E fazendo o casamento!
O Anticristo nasceu
Para o Brasil governar
Mas aí está o Conselheiro
Para dele nos livrar!
Visita vem nos fazer
Nosso rei D. Sebastião
Coitado daquele pobre
Que viver na lei do Cão!

Esses versos foram coletados por Euclides da Cunha em Canudos e publicados em Os sertões, de 1902. Eles mostram parte das ideias que aglutinaram as pessoas em torno de Antônio Conselheiro, como:

Alternativa correta: A — oposição à República e a crença no messianismo sebastianista.

Tema central: a pergunta exige identificar, a partir de versos recolhidos por Euclides da Cunha em Os Sertões, as ideias que unificavam os seguidores de Antônio Conselheiro em Canudos: recusa da ordem republicana e crença messiânica (sebastianismo).

Resumo teórico: o movimento de Canudos (década de 1890) articulou religiões populares, crítica à República recém‑instaurada e expectativas messiânicas. Antônio Conselheiro era visto como líder religioso‑político; D. Sebastião (figura messiânica portuguesa) foi reinterpretado como retorno salvador. Textos e cantos mostram hostilidade às instituições republicanas — por exemplo, casamento civil é citado como ilusão e “lei do Cão” refere‑se às leis humanas/repúblicas em choque com a “lei de Deus”. Fontes-chave: Euclides da Cunha, Os Sertões (1902); estudos de historiadores sobre Canudos e messianismo (consultar bibliografia de historiografia brasileira sobre o fim do Império e a Primeira República).

Por que a alternativa A está correta: os versos falam explicitamente em “lei de Deus” versus “lei do Cão”, rejeição do “casamento civil” e a chegada de “D. Sebastião” — sinais claros de recusa da ordem republicana civil (leis civis) e de crença messiânica/sebastianista. Assim, a síntese “oposição à República + messianismo sebastianista” corresponde diretamente ao conteúdo do texto.

Análise das alternativas incorretas:

B (oposição à República e luta pelo casamento civil) — errada: o texto critica o casamento civil (“Vão casar o povo todo / No casamento civil!” como forma de iludir), logo não há defesa do casamento civil.

C (cristianismo oficial sebastianista e opção pela República) — errada: inconsistência. O movimento não representava o “cristianismo oficial” (era religiosidade popular) nem apoiava a República; pelo contrário, opunha‑se a ela.

D (associação entre a “lei de Deus” e as leis da República recém‑proclamada) — errada: o texto contrapõe explicitamente ambas; a “lei de Deus” é colocada contra a “lei do Cão” (leis republicanas), não as associa.

Estratégia para questões assim:

• Busque palavras‑chave no enunciado: “lei de Deus”, “lei do Cão”, “casamento civil”, “D. Sebastião”.
• Traduza em termos políticos: “lei do Cão” costuma representar crítica às leis civis/Republicanas.
• Desconfie de alternativas que misturam posições opostas (ex.: apoio à República + messianismo) — verifique coerência com o texto.

Fonte recomendada: Euclides da Cunha, Os Sertões (1902) — para o texto; além de estudos de historiografia sobre Canudos e messianismo para aprofundar.

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