Questão 58d99481-d8
Prova:PUC - SP 2016
Disciplina:História
Assunto:Medievalidade Europeia, História Geral

O relato expõe traços de uma mentalidade que caracterizou o Ocidente medieval. Entre esses traços, pode-se mencionar:

“No ano de 590, quando a peste e a fome devastam a Gália, um enxame de moscas faz enlouquecer um camponês de Berry enquanto este cortava lenha na floresta. Ele se transforma em pregador itinerante, vestindo peles de animais, acompanhado de uma mulher a quem chama de Maria, enquanto ele mesmo se faz passar por Cristo. Ele anuncia o futuro, cura os doentes. Segue-o uma multidão de camponeses, pobres e até mesmo padres. Sua atitude ganha logo um aspecto revolucionário. [...] O bispo do Puy manda assassiná-lo e, torturando a pobre Maria, consegue as confissões desejadas.”

Jacques Le Goff. Por uma outra Idade Média. Petrópolis: Vozes, 2013, p. 181-182

A
a proliferação de heresias e a atitude tolerante, da parte dos líderes políticos e religiosos, ante as diferentes crenças.
B
o temor diante de fenômenos naturais e a visão, pelos setores hegemônicos, do campesinato como potencialmente perigoso.
C
a hegemonia do pensamento místico e a inexistência, entre os camponeses, de conhecimentos sobre a fauna e a flora.
D
o caráter violento das relações sociais e o desprezo, pelos setores eclesiásticos, em relação ao meio ambiente.

Gabarito comentado

V
Vanessa CamposMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa B

Tema central: a questão aborda as mentalidades medievais — especialmente a reação popular a catástrofes (peste, fome) e a forma como as elites religiosas e políticas encaravam movimentos populares e “hereges”. É preciso identificar no texto sinais de medo de fenômenos naturais e de repressão por parte das autoridades.

Resumo teórico claro: No Baixo Império e Alta Idade Média, crises (pestes, fomes) alimentavam manifestações religiosas, proféticas e milenaristas entre camponeses. As elites eclesiásticas frequentemente viam essas mobilizações como ameaça à ordem e reprimiam-nas com violência. Esse quadro é estudado por historiadores da mentalidade como Jacques Le Goff (Por uma outra Idade Média) e por obras sobre religiosidade popular e controle social.

Justificativa da alternativa B: O trecho descreve explicitamente: peste e fome (medo diante de fenômenos naturais) e a resposta do bispo — mandar assassinar e torturar — mostrando que os sectores hegemônicos (here, o bispado) encaram o campesinato como potencialmente perigoso. Esses dois elementos aparecem juntos e são precisamente o que a alternativa B afirma.

Análise das alternativas incorretas:

A — Incorreta. Afirma tolerância das lideranças diante de heresias; o texto mostra justamente intolerância e repressão (assassinato, tortura), não atitude permissiva.

C — Incorreta. Embora haja religiosidade e manifestações místicas, dizer que houve "hegemonia do pensamento místico" e "inexistência de conhecimento sobre fauna e flora" é exagero e contradiz o texto; o relato aponta medo dos fenômenos naturais, não ignorância sobre fauna/flora.

D — Incorreta. É verdade que há violência nas relações sociais, mas o foco da alternativa — desprezo eclesiástico pelo meio ambiente — não é sustentado pelo texto. A violência descrita é dirigida contra pessoas (o camponês e sua mulher), não contra a natureza.

Estratégia de prova: Procure no enunciado palavras-chave (atores: bispo; ações: mandar assassinar, torturar; contexto: peste, fome). Relacione imediatamente ação/atitude das elites com o comportamento popular. Pergunte-se: quem teme o quê? Quem reprime quem?

Fontes recomendadas: Jacques Le Goff, Por uma outra Idade Média; estudos sobre religiosidade popular e controle social na Idade Média (ex.: works by Robert Bartlett).

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