Questão 54a1ac1d-b1
Prova:UFRR 2016
Disciplina:História
Assunto:Período Colonial: produção de riqueza e escravismo, História do Brasil

Com base no texto I e nos seus conhecimentos sobre a escravidão negra no Brasil durante a segunda metade do século XIX, é CORRETO afirmar:

TEXTO I
“ ...na cidade de Óbidos, em 11 de janeiro de 1854 [...] Raimunda, “24 anos de idade, crioula, bem retinta, um tanto baixa, bem figurada, muito humilde” [...] estava fugida com seu companheiro José Moisés, “de 26 anos de idade, cafuz bastante fornido do corpo, estatura regular, mal encarado, olhos pequenos, e fundos”. Os dois fugiram com a ajuda do forro Antônio Maranhoto, natural do Maranhão que [...antes] “foi marinheiro de embarcação de guerra”[...]. Em fevereiro de 1861, a escrava Benedita, “cafuza, natural de Óbidos, com falta de dentes na frente, cabelos cacheados, cheia de corpo, cara risonha” fugiu na companhia do soldado mulato Francisco Lima. Levou uma rede nova, um balaio e um baú de cedro contendo “um par de chinela, um fio de conta de ouro, uma camisa de chita amarela, uma saia de cambraia branca com três folhos e duas camisas brancas”. Em abril do mesmo ano, a escrava Maria, “crioula retinta, magra, alta, olhos e beiços grandes” fugiu com Hipólito, “crioulo bem retinto, barbado, falta de dentes na parte superior”. Maria e Hipólito fugiram pouco tempo depois do falecimento de seu senhor Antônio Guerra, diretor de índios no rio Madeira. A viúva pedia sua captura e ainda oferecia 100 mil réis de recompensa por cada escravo.” 

CAVALCANTI, Y.R.O; SAMPAIO, P.M. Histórias de Joaquinas, Mulheres, Escravidão e Liberdade (Brasil, Amazonas: séc.XIX). Revista Afro-Ásia, 46. p.97-120. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/afro/n46/a03n46.pdf>

A
A má influência masculina explica as fugas das mulheres escravas, pois o trabalho escravo feminino era feito exclusivamente no interior das casas grandes, onde geralmente as negras eram tratadas como parte da família;
B
O estado do Amazonas foi um dos primeiros a decidir pelo fim da escravidão e isso aconteceu porque não havia mais escravos negros na região;
C
Em 1871, a Lei do Ventre Livre libertou milhares de filhos de escravos, diminuindo consideravelmente as fugas de mulheres, como as apresentadas no texto;
D
Em 1850, pela Lei Euzébio de Queiroz, foi proibido o tráfico internacional e, consequentemente, a importação de escravos, mas continuava sendo legal manter escravos em cativeiro;
E
Embora submetidas ao trabalho compulsório, as mulheres no cativeiro recebiam especiais cuidados e preocupação de seus senhores, por isso tinham liberdade plena para constituir e manter laços familiares.

Gabarito comentado

G
Gabrielle FrancoMonitor do Qconcursos
Alternativa correta: D

Tema central: Fugidas de escravas e o contexto legal da escravidão no Brasil na segunda metade do século XIX. Para resolver, é preciso relacionar fontes primárias (atos de fuga, anúncios, relatos) ao quadro legal (Lei Euzébio de Queiroz, Lei do Ventre Livre, Lei Áurea) e às práticas sociais na Amazônia.

Resumo teórico: A Lei Euzébio de Queiroz (1850) proibiu o tráfico transatlântico de escravos — isto é, a entrada de novos escravizados vindos de fora — mas não aboliu a escravidão interna. A Lei do Ventre Livre (1871) declarou livres os filhos de escravas nascidos a partir daquela data, sem libertar os escravos já existentes. A abolição plena só veio com a Lei Áurea (1888). Enquanto isso, fugas, redes de apoio locais e relações interétnicas continuaram sendo práticas comuns, inclusive na Amazônia (ver Cavalcanti & Sampaio, Revista Afro-Ásia).

Justificativa da alternativa D: A alternativa D afirma corretamente que, em 1850, a Lei Euzébio de Queiroz proibiu o tráfico internacional e, portanto, a importação de escravos, mas que a manutenção da escravidão interna permaneceu legal. Isso corresponde ao quadro legal histórico: a proibição do tráfico não equivalia à libertação dos cativos já existentes nem à proibição do comércio interno.

Análise das alternativas incorretas:

A — Incorreta. Reduzir fugas de mulheres à “má influência masculina” é simplista. Mulheres escravas atuavam tanto no serviço doméstico quanto na produção (especialmente em áreas rurais e na Amazônia), e fugas eram motivadas por múltiplos fatores: busca por liberdade, redes de fuga, casamentos informais, condições de vida e morte do senhor.

B — Incorreta. O Amazonas não foi pioneiro no fim da escravidão por não haver mais escravos; ao contrário, o trabalho escravo persistiu nas regiões amazônicas até o final do século XIX. A ausência de tráfico internacional não significou ausência de escravidão local.

C — Incorreta. A Lei do Ventre Livre (1871) não libertou “milhares de filhos de escravos” de imediato de modo a reduzir substancialmente as fugas de mulheres. Ela garantia liberdade aos nascidos após 1871, mas a situação das mulheres escravas adultas permaneceu inalterada e as fugas continuaram por décadas.

E — Incorreta. Apesar de haver variações no trato cotidiano, não se pode generalizar que senhoras davam “cuidados especiais” ou liberdade plena para constituir família. A família escrava era frequentemente fragilizada por vendas, punições e controle do senhor.

Leis citadas: Lei Euzébio de Queiroz (1850); Lei do Ventre Livre (1871); Lei Áurea (1888). Consulta recomendada: Cavalcanti & Sampaio, Revista Afro-Ásia (uso de arquivos locais sobre fugas na Amazônia).

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