O fragmento textual seguinte se refere a uma característica de sociedades africanas em épocas anteriores à expansão marítima e comercial europeia.


A forma como uma sociedade organiza a distribuição dos bens que produz ou adquire revela muito do caráter desta sociedade, de seus valores, usos e costumes. No caso das sociedades de linhagens da África negra, todo o sistema social estava baseado nas esferas da reciprocidade e da distribuição, como forma de garantir a coesão social do grupo. Os velhos guardam a experiência e o conhecimento dos costumes. Assim, não era uma sociedade dirigida pelos mais produtivos e dinâmicos (como na lógica capitalista) e, sim, pelos que guardavam a tradição e o saber mágico.

SILVA, Francisco C. T. da. Conquista e colonização da América portuguesa. In: LINHARES, Maria Yedda (Org.). História geral do Brasi l . Rio de Janeiro: Elsevier, 1990. p. 48. [Adaptado]


Ao estabelecer uma comparação entre a organização social expressa no fragmento e as sociedades africanas exploradas pelos europeus à época das Grandes Navegações, é correto afirmar:

Resposta correta: Alternativa A

Tema central: organização social das sociedades de linhagens na África pré‑colonial e os efeitos da expansão do comércio escravista europeu sobre essas estruturas. É importante entender conceitos como linhagem, reciprocidade e compartilhamento, bem como os impactos demográficos, econômicos e políticos provocados pela intensa demanda atlântica por escravos.

Resumo teórico: sociedades de linhagens baseavam‑se em laços de parentesco descentralizados, com autoridade distribuída entre anciãos e chefes locais, e economia orientada para a produção e partilha comunitária. A generalização do comércio transatlântico de escravos alterou essas relações: aumento de conflitos por captura de pessoas, enriquecimento e fortalecimento de líderes que intermediaram o comércio, perda populacional, desorganização das práticas redistributivas e, em vários casos, centralização e militarização (ver Lovejoy; Thornton; Rodney).

Justificativa da alternativa A: correta porque afirma que a organização das linhagens sofreu mudanças a partir da generalização do comércio escravista. O comércio atlântico criou novos incentivos econômicos e políticos que modificaram a lógica da reciprocidade — líderes que controlavam rotas e trocas ganharam poder, houve pressão sobre estruturas tradicionais e transformação das relações sociais (Paul E. Lovejoy; John Thornton).

Análise das alternativas incorretas:

B — incorreta. A existência prévia de formas de servidão não impediu mudanças profundas; a escala e o lucro do comércio atlântico provocaram transformações sociais significativas, não mera manutenção estática.

C — incorreta. A difusão do cristianismo ocorreu em contextos e ritmos variados e não preservou automaticamente o papel das lideranças nativas; muitas lideranças foram cooptadas ou reconfiguradas pelas novas dinâmicas comerciais e políticas.

D — incorreta. A relação europeia com sociedades africanas foi mais complexa: frequentemente houve alianças e uso de intermediários locais em vez de simples subjugação direta dos anciãos; a política colonial efetiva veio mais tarde e variou segundo regiões.

Dica de prova: ao ler enunciados sobre mudanças sociais, busque causa/efeito — se a alternativa menciona um fator histórico de larga escala (como o comércio escravista) como agente transformador, ela costuma ser correta se alinhada com evidências. Desconfie de opções que afirmam "sem mudanças" ou que simplificam interações complexas.

Fontes recomendadas: Paul E. Lovejoy, Transformations in Slavery; John Thornton, Africa and Africans in the Making of the Atlantic World; Walter Rodney, How Europe Underdeveloped Africa.

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