Leia os fragmentos abaixo:
O que muitos cristãos parecem procurar é o martírio. Muitos governadores de províncias, quando recebem cristãos, fornecem a eles todas as
oportunidades para se conformarem com os mais básicos requisitos do
Estado – uma oferenda de incenso para o gênio do imperador, por exemplo – mas muitas vezes têm sido repelidos com repetidas manifestações
de fé. Os governadores relutam, mas no final são obrigados a expor esses
fanáticos às feras e ao martírio. Talvez seja isso o que torna a religião
cristã tão atraente para alguns. Acima de tudo, eles seguem os preceitos
de um fazedor de milagres que foi, ele próprio, crucificado como um criminoso.
(LAURENCE, Ray. Guia do Viajante Pelo Mundo Antigo – Roma no ano 300 d.C. SP:
Ciranda Cultural, 2008, p. 31.)
Os cristãos mataram muçulmanos nas Cruzadas. Os cristãos mataram
judeus em muitos massacres. Enquanto isso, outra dimensão foi adicionada: os cristãos começaram a matar companheiros cristãos acusados de
“hereges”. [...] Em Alexandria, em 415, a grande cientista Hypatia, chefe
da Biblioteca de Alexandria, foi espancada até a morte pelos monges e
outros seguidores de São Cirilo, que viam a ciência dela muito como a
Igreja, mais tarde, veria a de Galileu. (HAUGHT, James A. Perseguições Religiosas –
Uma história do fanatismo e dos crimes religiosos. RJ: Ediouro, 2003, p. 53.)
A relação entre os excertos pode ser encontrada em:
Gabarito comentado
Alternativa correta: E
Tema central: transformação histórica dos cristãos de grupo perseguido no Império Romano para atores de perseguição quando o cristianismo se institucionalizou e passou a dominar o poder político — incluindo perseguições a não-cristãos e a cristãos dissidentes (hereges).
Resumo teórico: No período imperial antigo, perseguições contra cristãos ocorreram principalmente por recusa ao culto imperial e por tensões sociais locais. Com a conversão de Constantino (séc. IV) e a posterior legislação cristãizadora (p.ex. Código Teodosiano), o cristianismo ganhou status de religião do Estado, o que permitiu que autoridades eclesiásticas e civis perseguissem dissidências, hereges e religiões minoritárias. Exemplos históricos: massacres das Cruzadas, violência contra judeus medievais e o caso de Hypatia (415) ilustra violência interna contra intelectuais vistos como opositores (fonte historiográfica: Diarmaid MacCulloch; Ramsay MacMullen).
Por que a alternativa E é correta: Ela sintetiza com precisão a mudança descrita nos trechos: cristãos foram inicialmente perseguidos pelo Estado romano por sua resistência ao culto do imperador; posteriormente, com o fortalecimento do catolicismo como instituição dominante, passaram a perseguir outros — tanto não católicos quanto cristãos dissidentes. A alternativa registra a continuidade e a inversão de papéis (de perseguidos a perseguidores).
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta: reduz o processo a "cientistas" como foco exclusivo; os trechos tratam de perseguições religiosas e políticas mais amplas, não apenas de cientistas.
B — Parcialmente verdadeira sobre caráter religioso das perseguições romanas, mas falha ao afirmar que a Idade Média perseguia "independentemente de sua religião" — muitas perseguições medievais visavam especificamente judeus, muçulmanos e hereges cristãos, portanto a motivação religiosa/política continuou central.
C — Incorreta: mistura conceitos (negação da divindade do imperador explica perseguições romanas) e faz afirmação vaga sobre "racionalização do pensamento" na Idade Média que não corresponde ao contexto histórico dos exemplos.
D — Parcialmente correta ao afirmar continuidade das perseguições, mas exagera ao afirmar que chegaram ao "auge" somente com a ascensão dos católicos; o termo "auge" é impreciso e a alternativa não explicita a inversão de papéis (de perseguido para perseguidor).
Estratégia para resolução: identifique no enunciado a linha temporal e a mudança de papel (quem persegue vs. quem é perseguido). Desconfie de alternativas que generalizam demais ou deslocam o foco (ex.: cientistas, "independentemente de religião").
Fontes recomendadas: Código Teodosiano (legislação), Diarmaid MacCulloch, A History of Christianity; Ramsay MacMullen, Christianizing the Roman Empire.
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