Os diversos grupos envolvidos na Revolução Francesa interpretaram diferentemente os princípios teóricos que a fundamentaram. Uma interpretação desses princípios pode ser exemplificada no Manifesto dos Iguais, que se expressava nos seguintes termos:


Desde a própria existência da sociedade civil, o atributo mais belo do homem vem sendo reconhecido sem oposição, mas nem uma só vez pôde ver -se convertido em realidade: a igualdade nunca foi mais do que uma bela e estéril dicção da lei. E hoje, q uando essa igualdade é exigida numa voz mais forte do que nunca, a resposta é esta: "Calai -vos, miseráveis! A igualdade não é realmente mais do que uma quimera; contentai -vos com a igualdade relativa: todos sois iguais em face da lei. Que quereis mais, mis eráveis?" Que mais queremos? Queremos igualdade efetiva ou a morte. De que mais precisamos além da igualdade de direitos? Queremos vê-la entre nós, sob o teto das nossas casas.

BABEUF, Graco. Manifesto dos Iguais. Disponível em: . Acesso em: 17 set. 2012. [Adaptado]


Elaborado na fase do Diretório, esse Manifesto inspirou a "Conspiração dos Iguais", que foi sufocada, e seu líder, Graco Babeuf, preso e executado.


No contexto da Revolução Francesa, esses acontecimentos evidenciam que

Resposta correta: C

Tema central: o texto de Babeuf expõe a crítica de parcelas populares à Revolução Francesa por haverem alcançado apenas a igualdade formal (perante a lei), não a igualdade efetiva (social e econômica). A questão avalia se você identifica que, ao final do processo revolucionário, os princípios revolucionários foram aplicados sobretudo na medida em que atendiam aos interesses da burguesia.

Resumo teórico: a Revolução de 1789 teve múltiplas fases e grupos (feuillants, jacobinos, sans-culottes, girondinos, royalistas). Embora proclamasse liberdade, igualdade e fraternidade, o resultado prático foi a afirmação política e econômica da burguesia: legalidade liberal, propriedade e novas instituições favorecendo interesses burgueses. Movimentos radicais (como a Conspiração dos Iguais de Babeuf) surgem justamente por essa frustração social. Fonte básica: William Doyle, The Oxford History of the French Revolution; manifesto de Babeuf (disponível em marxists.org).

Por que a alternativa C está correta: o Manifesto dos Iguais denuncia que a igualdade ficou na lei e não na vida material. Isso mostra que os princípios revolucionários foram implementados até onde não contrariavam interesses econômicos e políticos da burguesia — ou seja, a revolução consolidou o poder burguês, deixando reivindicações sociais por realizar.

Análise das alternativas incorretas:

A — incorreta: os conservadores/realistas (realistas = royalistas) buscavam restaurar a monarquia, mas não foi a alta burguesia quem centralmente articulou essa restauração; além disso, a questão trata da aplicação dos ideais revolucionários, não de alianças monarquistas.

B — incorreta: Robespierre e os jacobinos mobilizaram massas (sans-culottes) e, embora tenham temido e reprimido inimigos sociais em certos momentos, não é preciso e nem coerente afirmar que "temiam a ascensão das massas operárias" como tese geral aplicada ao texto de Babeuf (que é posterior ao Terror e crítico justamente da insuficiência das conquistas sociais).

D — incorreta: é verdade que ideias radicais orientaram os jacobinos e que eles chegaram a liderar (período do Terror), mas o Manifesto dos Iguais aparece na fase do Diretório, quando os jacobinos já haviam perdido hegemonia; o núcleo da questão é a realização prática dos ideais em favor da burguesia, não a liderança jacobina.

Dica de interpretação: identifique no texto palavras-chave (aqui: “igualdade nunca... convertida em realidade”) e conecte ao debate entre igualdade formal vs. efetiva. Em provas, vincule sempre o enunciado ao contexto cronológico (Diretório vs. Terror) para eliminar alternativas anacrônicas.

Referências: Babeuf, "Manifesto dos Iguais" (marxists.org); William Doyle, The Oxford History of the French Revolution.

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