“A esta hora da madrugada decidi dirigir-me aos meus contemporâneos: nosso país está vivendo horas dramáticas de tensão! [...] Nós que governamos o Rio Grande, não assistiremos passivamente quaisquer atentados às liberdades públicas e à ordem constitucional. Reagiremos como estiver ao nosso alcance. Nem que seja para sermos esmagados, defenderemos nossa honra e nossas tradições. A Constituição tem de ser respeitada.”

Manifesto de Leonel Brizola, na madrugada de domingo, 27 de agosto de 1961.
(Citado na obra de Flávio Tavares, 1961: “O golpe derrotado”)

Durante treze dias, em 1961, o Brasil passou por uma situação de guerra civil, com mobilização de tropas e ordens de bombardeio aéreo. Qual das alternativas abaixo não está corretamente relacionada com aqueles dias de tensão vividos no país?

Após a renúncia de Jânio Quadros, enquanto Jango retornava de sua viagem à China, as forças políticas brasileiras se alinharam em dois grupos antagônicos, quase levando o país a uma guerra civil. Um dos grupos não aceitava a posse do vice-presidente João Goulart, e outro exigia que a Constituição fosse respeitada.

A crise política de 1961 foi resolvida pelo Congresso Nacional, que instituiu o parlamentarismo, através de um Ato Adicional à Constituição de 1946. Assim, João Goulart tomaria posse, mas o governo seria exercido por um primeiro-ministro.

Diante do impasse para a posse de João Goulart, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, formou a Cadeia da Legalidade, uma rede de emissoras de rádio para defender a posse do vice-presidente. O movimento liderado por Brizola ganhou adesão do comandante do poderoso 3.º Exército, sediado no Rio Grande do Sul.

O sistema parlamentarista, implantado em 1961 como solução para a crise política, deveria funcionar até 1965, ocasião em que seria realizado um plebiscito, através do qual a população decidiria acerca de sua permanência ou não. Era a segunda vez que o país adotava o sistema, uma vez que, durante o Segundo Reinado, foi instituído o parlamentarismo.

Após a renúncia de Jânio Quadros, alguns grupos insistiram na “inconveniência” da posse de Jango, tido como agitador, comprometido com interesses comunistas, pertencente à corrente nacionalista e partidário da continuidade do Plano Trienal iniciado por Jânio Quadros. O Plano deveria ser aprimorado com a implantação das Reformas de Base, que contrariavam poderosos interesses. A totalidade das forças armadas estava contra Jango.

Gabarito comentado

Raquel Peixoto Monitor do Qconcursos

Tema central: A questão aborda a Crise Política de 1961, desencadeada após a renúncia de Jânio Quadros e a disputa sobre a posse de João Goulart (Jango), num contexto de grande instabilidade política, tensão entre civis e militares, e risco real de guerra civil.

Explicação Didática: Pela Constituição de 1946, o vice assumiria a presidência em caso de renúncia, porém setores militares e políticos conservadores resistiram à posse de Jango por temerem seu alinhamento a propostas nacionalistas e reformas sociais. Em resposta, Leonel Brizola organizou a Campanha da Legalidade, movimento de defesa da Constituição e da posse legítima de Jango, com grande apoio popular e militar (destacadamente o III Exército).

Conceitos-chave: legalidade constitucional, parlamentarismo provisório, e divisões internas nas Forças Armadas. Livros como “História do Brasil”, de Boris Fausto, e “Brasil: uma biografia” (Lilia Schwarcz & Heloisa Starling) aprofundam esse episódio.

Justificativa da Alternativa Correta (E):
A alternativa E é a incorreta porque afirma: “A totalidade das forças armadas estava contra Jango.” Isso é falso. O movimento de Brizola ganhou apoio significativo, especialmente do III Exército, evidenciando que havia divisão entre os militares. Portanto, a afirmação generaliza e distorce os fatos históricos, já que setores importantes das Forças Armadas estavam ao lado da legalidade.

Análise das Incorretas:

A: Correta – descreve a polarização e a quase guerra civil após a renúncia.
B: Correta – contextualiza a adoção do parlamentarismo como saída constitucional.
C: Correta – relata com precisão o papel de Brizola e do III Exército na defesa de Jango.
D: Correta – reforça o funcionamento provisório do parlamentarismo (com plebiscito previsto) e lembra o precedente do Segundo Reinado.

Dica de interpretação: Sempre desconfie de termos como “totalidade”, “todos” ou “nenhum” em História. Eles costumam indicar generalizações que raramente correspondem à realidade dos fatos.

Conclusão: Saber identificar divisões internas e evitar generalizações é essencial para entender crises políticas em História do Brasil e acertar questões de concurso.

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