Quando pensamos na relação entre o Estado e o movimento operário no Brasil da Primeira
República, logo temos em mente o velho jargão: a “questão social” deveria ser tratada como
“questão de polícia”. Há muito, fora desconstruída a atribuição dessa frase a Washington Luís, que,
aliás, antes de ser presidente da República, havia sido Secretário de Segurança Pública e
Governador de São Paulo, além de prefeito daquela capital durante o período das grandes greves
entre 1917 e 1919.
OLIVEIRA, Tiago Bernadon de. Pela reforma, contra a revolução: Notas sobre o reformismo e colaboracionismo na história do
movimento operário brasileiro na Primeira República. Paraíba: Revista Crítica Histórica, Ano III, n 5, julho, 2012, p. 33. Adaptado.
A equivocada manutenção da responsabilidade da autoria dessa frase ao presidente deposto em
1930 teve como principal consequência para o imaginário social a ideia de que a
Gabarito comentado
Resposta correta: C
Tema central: relação entre Estado e movimento operário na Primeira República e o impacto da atribuição equivocada de uma frase (a ideia de tratar a “questão social” como “questão de polícia”) sobre o imaginário coletivo. É preciso entender como memória pública e atribuições pessoais moldam interpretações históricas.
Resumo teórico: Na República Velha (1889–1930) o Estado frequentemente respondeu às greves e mobilizações operárias com policiamento, repressão e medidas policiais — sobretudo nas grandes cidades industriais do Sudeste. Esse padrão de conduta gerou uma imagem duradoura de que o regime priorizava coerção sobre negociação. (Ver: Oliveira, Tiago B. de, 2012; Fausto, Boris, História do Brasil.)
Por que a alternativa C é correta: A questão pede a “principal consequência para o imaginário social” da manutenção equivocada da autoria da frase. Essa manutenção reforçou a ideia de que a coerção contra as classes populares era característica exclusiva — quase um “monopólio” — da República Velha. Ou seja, consolidou no senso comum a visão de que o regime velho-republicano respondeu sistematicamente com força policial às demandas sociais, o que é exatamente o sentido da alternativa C.
Análise das alternativas incorretas
A. “Repressão às classes populares não passou de retórica da oligarquia.” Errado — a historiografia e as evidências de greves e intervenções policiais mostram medidas concretas de repressão, não apenas retórica.
B. “Ascensão do novo grupo garantiria o efetivo exercício da democracia.” Errado — a afirmação trata de consequência política futura (democratização), não do efeito simbólico sobre o imaginário relativo à repressão; não responde ao enunciado.
D. “Implantação de sindicatos seria a única forma de garantir proteção social.” Errado — é uma proposição normativa e exclusiva que não decorre da atribuição da frase; além disso, a proteção social teve várias formas históricas, não apenas sindicatos.
E. “Regulamentação da relação capital/trabalho só seria possível no Sudeste industrial.” Errado — trata de uma limitação geográfica e normativa que não é consequência direta da atribuição da frase ao indivíduo citado.
Dica para interpretação: identifique palavras-chave do enunciado (ex.: “principal consequência”, “imaginário social”, “manutenção equivocada”) e relaçione-as ao efeito simbólico — não factual imediato — que uma atribuição indevida produz na memória coletiva.
Fontes sugeridas: Tiago B. de Oliveira (2012); Boris Fausto, História do Brasil; estudos sobre as greves de 1917–1919 e políticas públicas da Primeira República.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!





