Questão 4b7ceb1f-5c
Prova:UFRN 2012
Disciplina:História
Assunto:Medievalidade Europeia, História Geral

O historiador Jacques Le Goff, analisando o Ocidente europeu na Idade Média, comenta:


O conflito entre o tempo da Igreja e o tempo dos mercadores afirma-se pois em plena Idade Média, como um dos acontecimentos maiores da história mental destes séculos, d urante os quais se elabora a ideologia do mundo moderno, sob a pressão da alteração das estruturas e das práticas econômicas.


LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média: tempo, trabalho e cultura no Ocidente. Lisboa: Estampa, 1979. p. 45.


Esse conflito referido pelo autor diz respeito

A
à tensão entre a moral burguesa, que defendia o ?justo preço? e a moderação do lucro, e os valores clericais, que enalteciam o ócio, como expressão da confiança na Providência.
B
à contradição entre a exploração dos servos, a qual sustentava a produção nos domínios feudais, e a concepção de uma sociedade fraterna defendida pela Igreja.
C
às dificuldades de conciliação entre os interesses religiosos das Cruzadas e as ambições das cidades italianas, que lucravam com as novas rotas comerciais abertas pelo movimento cruzadista.
D
à incompatibilidade entre o ponto de vista defendido pela Igreja sobre a economia e as ideias capitalistas da burguesia, a qual gradativamente se consolidava.

Gabarito comentado

V
Vanessa CamposMonitor do Qconcursos

Resposta correta: D

Tema central: conflito entre a visão econômica e moral da Igreja e o processo de consolidação das práticas e mentalidades burguesas que antecipam o capitalismo moderno. É necessário compreender idéias econômicas medievais (ética cristã, legislação canônica, doutrina do “justum pretium”) e a emergência de mentalidades mercantis.

Resumo teórico: No Baixo Médio‑Era houve transformação das práticas econômicas (crescimento urbano, comércio e circulação monetária). A Igreja propunha limites morais ao lucro (usura proibida, ideal do trabalho orientado pela salvação), enquanto segmentos burgueses defendiam práticas de mercado e acumulação que se tornariam base do capitalismo. Jacques Le Goff aponta esse choque como componente da formação da ideologia moderna (cf. Le Goff, Para um novo conceito de Idade Média). Para enquadrar, compare com análises de Max Weber sobre a relação entre ética religiosa e espírito do capitalismo.

Por que a alternativa D está correta: Ela expressa com precisão a ideia de incompatibilidade entre a perspectiva eclesiástica sobre economia (restrições morais ao lucro, crítica à usura) e as práticas mercantis/ideias capitalistas emergentes da burguesia. Le Goff falava do “tempo da Igreja” vs. “tempo dos mercadores”: conflito de mentalidades e de normas sociais que sustentaram a transição para o mundo moderno.

Análise das alternativas incorretas:

A: Incorreta — Inverte papéis: a moral burguesa que defende “justo preço” e moderação do lucro não é de origem burguesa pura; a ideia do justo preço tem forte sustentação na ética cristã e na escolástica. Além disso, afirmar que clericalidade enaltecia o ócio simplifica e distorce a posição da Igreja sobre trabalho (muitos clérigos valorizavam o trabalho como vocação).

B: Incorreta — Trata do conflito servo/igreja e de ideal fraterno; embora a Igreja pregasse caridade e ideal de comunidade, o choque central apontado por Le Goff é entre modelos econômicos e temporizações sociais, não especificamente sobre a exploração servil.

C: Incorreta — As Cruzadas e o lucro das cidades italianas são fenômenos relacionados ao comércio, mas a citação de Le Goff refere-se a um choque mais amplo de mentalidades econômicas, não apenas ao conflito de interesses ligado às Cruzadas.

Dicas de prova: procure termos-chaves no enunciado: “tempo da Igreja” vs “tempo dos mercadores” indica choque de mentalidades/ideologias. Desconfie de alternativas que invertam autores das ideias (quem defende o justo preço?) ou que reduzam o conflito a um episódio específico (Cruzadas).

Fontes sugeridas: Jacques Le Goff, Para um novo conceito de Idade Média; Thomas Aquinas (sobre justo preço); Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo (para contexto historiográfico).

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