Leia o texto a seguir.
Eu vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de ataque
em chamas ao largo de Órion. Eu vi raios-c brilharem
na escuridão próximos ao Portão de Tannhäuser. Todos
esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas
na chuva. Hora de morrer.
(Disponível em: <https://pt.wikiquote.org/wiki/Blade_Runner>. Acesso em: 11 jul. 2017.)
Esta é uma fala do androide Roy que queria eliminar
Decard, no filme Blade Runner, o Caçador de Androides
(1982), dirigido por Ridley Scott. No entanto, no
combate, Roy o salvou da morte. Essa reflexão apresenta
a noção de uma existência construída por múltiplas
experiências as quais, que por serem as memórias
de Roy, se perderiam para sempre.
Com base nos conhecimentos hoje predominantes
sobre os fundamentos da história, atribua V (verdadeiro)
ou F (falso) às afirmativas a seguir.
( ) A História privilegia, nos seus estudos, as experiências
coletivas dos grandes grupos humanos,
excluindo a vida do indivíduo comum.
( ) A historiografia desconsidera a memória oral para
registrar as formas culturais de compreensão do
mundo.
( ) Nos museus e cemitérios, descansam os personagens
históricos cujas ideias não mais afetarão
os vivos.
( ) Memória e história são noções diferentes, mas
se complementam e interagem quando depoimentos
orais são registrados em documentos.
( ) Um fato histórico gera uma diversidade de documentos,
e as interpretações sobre ele ressignificam
o seu teor.
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo,
a sequência correta.
Gabarito comentado
Alternativa correta: D — F, F, F, V, V
Tema central: relação entre memória e história e a natureza das fontes históricas. A questão testa se você sabe distinguir memória (subjetiva, vivida) de história (método crítico) e reconhecer as práticas contemporâneas da historiografia (valorização de fontes diversas, inclusive orais, e estudos sobre o cotidiano).
Resumo teórico curto: A historiografia moderna ampliou objetos e fontes: biografias, história social, micro-história e oralidade mostram que o indivíduo e memórias populares importam (ver Marc Bloch; Carlo Ginzburg; Alessandro Portelli). Memória e história são distintas — memória é dinâmica e ligada a identidades; história é reconstrução crítica de passado — mas interagem e se complementam (Paul Ricoeur; Pierre Nora).
Justificativa das afirmações (1→5):
1) Falso. A afirmação exagera: a História não exclui o indivíduo. Desde a história social e a micro-história, o cotidiano e sujeitos “comuns” são objeto legítimo de investigação.
2) Falso. A historiografia contemporânea incorpora a memória oral como fonte valiosa, especialmente para grupos sub-representados; a oralidade é tratada com métodos críticos de verificação e contextualização.
3) Falso. Museus e cemitérios são espaços de memória pública; não significam que as ideias “não mais afetarão os vivos”. Pelo contrário, preservam e podem reativar significados.
4) Verdadeiro. Memória e história são noções diferentes, mas complementares: depoimentos orais passam a ser documentos quando registrados e analisados historicamente, enriquecendo a interpretação.
5) Verdadeiro. Um fato histórico produz múltiplos documentos e leituras; a interpretação histórica resignifica o sentido do fato conforme fontes, contexto e perspectiva teórica.
Por que D? Somando as avaliações acima: F, F, F, V, V → alternativa D. Estratégia de prova: desconfie de frases absolutas ("excluindo", "desconsidera") e lembre-se dos avanços metodológicos (oralidade, micro-história, estudos de memória).
Fontes úteis: Marc Bloch, Apprendre l'histoire; Pierre Nora, Les Lieux de Mémoire; Paul Ricoeur, Memory, History, Forgetting; Alessandro Portelli, Studies in Oral History.
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