Enfim, sabemos que a "história nacional" e a "cultura brasileira" não eram
entidades naturais. E todo o esforço dos homens de letras foi o de transformar
determinados valores, personagens, sentimentos e acontecimentos em tradições
que deveriam por sua vez ser experimentadas e guardadas como entidade
natural. Se essas tradições correspondiam ou não à verdade dos
acontecimentos não importa, nem constitui uma questão, na medida em que elas
não visavam a descrever uma realidade, mas sim conferir-lhe um sentido, bem
como produzir a solidariedade social e viabilizar um projeto coletivo, de nação e
de República.
DANTAS, Carolina Vianna. Cultura história, República e o lugar dos descendentes de africanos na
nação. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel e GONTIJO, Rebeca (orgs.). Cultura política e leituras
do passado: historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 245
(Adaptado).
A transição para a República, no Brasil, também foi marcada por ―batalhas de
memórias‖ e pela criação e recriação de mitos políticos entre os grupos políticos que
procuravam afirmar seu poder. Esta dimensão simbólica pode ser ainda exemplificada
Gabarito comentado
Alternativa correta: B
Tema central: a questão trata das "batalhas de memórias" na transição para a República — ou seja, da construção simbólica de uma história nacional por meio da criação e reabilitação de mitos públicos para legitimar o novo regime.
Resumo teórico: após 1889, grupos republicanos buscaram conferir sentido histórico à República por meio de símbolos, heróis e festas cívicas. Esse processo não visa à "verdade factual" dos eventos, mas à legitimação política: reabilitação de figuras como Tiradentes, criação de feriados, monumentos e narrativas escolares que vinculavam o passado colonial ao projeto republicano (ver Dantas, 2007; Fausto; José Murilo de Carvalho).
Por que B é correta: A república adotou Tiradentes como mártir da liberdade e precursor do ideário republicano — elevando sua imagem por meio de celebrações, estátuas e inclusão nos currículos. Esse é um exemplo clássico de como se recriaram mitos para produzir solidariedade nacional e legitimar a nova ordem.
Análise das alternativas incorretas:
A — Falsa: o positivismo influenciou símbolos (por exemplo, o lema "Ordem e Progresso") e círculos intelectuais, mas não houve grande expansão de "igrejas positivistas" na cidade do Rio; a presença institucional do positivismo foi mais simbólica e elitista do que uma maciça estrutura religiosa.
C — Falsa: as forças militares, responsáveis pela Proclamação, mantiveram papel político relevante nas décadas seguintes; não houve seu “esvaziamento” imediato como representação republicana — ao contrário, o Exército foi actor central na política do início da República.
D — Falsa: a República buscou modelos externos (especialmente os EUA e modelos europeus laicos) e não se caracterizou por um afastamento ideológico geral em relação aos demais países americanos; a afirmação é imprecisa diante do contexto diplomático e ideológico da época.
Fontes sugeridas: DANTAS, Carolina V. (2007); FAUSTO, Boris; CARVALHO, José Murilo — obras sobre República e memória histórica no Brasil.
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