Questão 4121fc0b-b2
Prova:UFU-MG 2016
Disciplina:História
Assunto:República Oligárquica - 1889 a 1930, História do Brasil

Enfim, sabemos que a "história nacional" e a "cultura brasileira" não eram entidades naturais. E todo o esforço dos homens de letras foi o de transformar determinados valores, personagens, sentimentos e acontecimentos em tradições que deveriam por sua vez ser experimentadas e guardadas como entidade natural. Se essas tradições correspondiam ou não à verdade dos acontecimentos não importa, nem constitui uma questão, na medida em que elas não visavam a descrever uma realidade, mas sim conferir-lhe um sentido, bem como produzir a solidariedade social e viabilizar um projeto coletivo, de nação e de República.
DANTAS, Carolina Vianna. Cultura história, República e o lugar dos descendentes de africanos na nação. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel e GONTIJO, Rebeca (orgs.). Cultura política e leituras do passado: historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 245 (Adaptado).

A transição para a República, no Brasil, também foi marcada por ―batalhas de memórias‖ e pela criação e recriação de mitos políticos entre os grupos políticos que procuravam afirmar seu poder. Esta dimensão simbólica pode ser ainda exemplificada 

A
pela forte expansão do positivismo que pode ser exemplificada pelo grande número de igrejas positivistas na cidade do Rio de Janeiro.
B
pela reabilitação de personagens importantes do período colonial que eram identificados com a causa republicana, como Tiradentes.
C
pelo esvaziamento das forças militares responsáveis pela Proclamação, cada vez mais vistas como retrógradas e incapazes de promover o republicanismo.
D
pelo afastamento ideológico em relação aos países do continente americano, os quais, com exceção dos Estados Unidos, eram vistos como repúblicas frágeis e atravessadas por conflitos internos.

Gabarito comentado

V
Vanessa CamposMonitor do Qconcursos

Alternativa correta: B

Tema central: a questão trata das "batalhas de memórias" na transição para a República — ou seja, da construção simbólica de uma história nacional por meio da criação e reabilitação de mitos públicos para legitimar o novo regime.

Resumo teórico: após 1889, grupos republicanos buscaram conferir sentido histórico à República por meio de símbolos, heróis e festas cívicas. Esse processo não visa à "verdade factual" dos eventos, mas à legitimação política: reabilitação de figuras como Tiradentes, criação de feriados, monumentos e narrativas escolares que vinculavam o passado colonial ao projeto republicano (ver Dantas, 2007; Fausto; José Murilo de Carvalho).

Por que B é correta: A república adotou Tiradentes como mártir da liberdade e precursor do ideário republicano — elevando sua imagem por meio de celebrações, estátuas e inclusão nos currículos. Esse é um exemplo clássico de como se recriaram mitos para produzir solidariedade nacional e legitimar a nova ordem.

Análise das alternativas incorretas:

A — Falsa: o positivismo influenciou símbolos (por exemplo, o lema "Ordem e Progresso") e círculos intelectuais, mas não houve grande expansão de "igrejas positivistas" na cidade do Rio; a presença institucional do positivismo foi mais simbólica e elitista do que uma maciça estrutura religiosa.

C — Falsa: as forças militares, responsáveis pela Proclamação, mantiveram papel político relevante nas décadas seguintes; não houve seu “esvaziamento” imediato como representação republicana — ao contrário, o Exército foi actor central na política do início da República.

D — Falsa: a República buscou modelos externos (especialmente os EUA e modelos europeus laicos) e não se caracterizou por um afastamento ideológico geral em relação aos demais países americanos; a afirmação é imprecisa diante do contexto diplomático e ideológico da época.

Fontes sugeridas: DANTAS, Carolina V. (2007); FAUSTO, Boris; CARVALHO, José Murilo — obras sobre República e memória histórica no Brasil.

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