Mas o objetivo da produção, mesmo com meios modestos, não era um fim
abstrato como hoje, mas prazer e ócio. Esse conceito antigo e medieval de ócio
não deve ser confundido com o conceito moderno de tempo livre. Isso porque o
ócio não era uma parcela da vida separada do processo de atividade
remunerada, antes estava presente, por assim dizer, nos poros e nos nichos da
própria atividade produtiva.
KURZ, Robert.A expropriação do tempo. Folha de São Paulo, 3 jan.1999. p. 5 (Adaptado).
A noção de tempo livre assumiu uma qualidade positiva distinta daquela de ócio, em
função de estar articulada a um conjunto de transformações socioeconômicas, localizadas a
partir de fins da Idade Média, e que se caracterizava
Gabarito comentado
Gabarito: Alternativa D
Tema central: a transformação da noção de ócio medieval para o conceito moderno de tempo livre, ligada a mudanças socioeconômicas iniciadas a partir do fim da Idade Média — especialmente o crescimento urbano, comercial e das camadas burguesas.
Resumo teórico: No mundo antigo/medieval o "ócio" (otium) era uma dimensão integrada à vida produtiva e social — não um tempo separado. A distinção entre trabalho remunerado e tempo livre surge gradualmente com a mercantilização, o crescimento das cidades e a expansão de trocas e mercados, processos que criam ritmos e formas de trabalho mais regulares e uma separação entre esfera produtiva e esfera de lazer (ver Fernand Braudel; análises contemporâneas como Robert Kurz).
Por que a alternativa D está correta: D relaciona diretamente a mudança à aceleração das atividades urbanas e comerciais, ao aumento da produção mercantil e ao fortalecimento das camadas burguesas — fatores centrais para a emergência do tempo livre entendido como separado do trabalho. Essa resposta capta a dinâmica econômica e social que cria formas específicas de trabalho assalariado/mercantil e tempo não-ocupado.
Análise das incorretas:
A — fala em "incremento da produção agrícola para o mercado interno" e num suposto "renascimento feudal": mistura conceitos imprecisos e não explica a centralidade urbana/mercantil; o impulso decisivo foi urbano e comercial, não um renascimento feudal.
B — a "mercantilização das terras da Igreja" foi pontual e secundária; não é a explicação sistêmica para a emergência do tempo livre nem corresponde à mudança cultural proposta.
C — afirma "descentralização das monarquias nacionais": historicamente as monarquias tendiam à centralização; além disso, a chave é a expansão mercantil e urbana, não uma descentralização administrativa.
Dica de interpretação: em enunciados históricos procure palavras-chave temporais ("a partir de fins da Idade Média") e sociais ("burguesia", "produção mercantil", "atividades urbanas"). Relacione causa (transformação econômica/urbana) a efeito (mudança no conceito de tempo e trabalho). Desconfie de alternativas que usem termos anacrônicos ou soluções isoladas.
Fontes sugeridas: Fernand Braudel, Civilization and Capitalism; textos de Robert Kurz sobre tempo e trabalho; sínteses de História Econômica sobre urbanização medieval.
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