Onde quer que prospere e assente em bases muito sólidas a ideia de família, tende a ser precária e a lutar contra fortes
restrições a formação e evolução da sociedade segundo conceitos atuais.
(Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 141 - ADAPTADO)
Escrevendo na década de 1930, o autor argumenta sobre o caráter cordial do brasileiro e salienta como traço da
formação social do país a:
Gabarito comentado
Resposta correta: A
Tema central: interpretação do conceito de “homem cordial” em Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil) e suas consequências para a formação institucional brasileira — especialmente a dificuldade de construir uma administração pública impessoal e baseada em regras objetivas.
Resumo teórico: Sérgio Buarque descreve o “homem cordial” como alguém que prioriza relações pessoais, afetivas e de parentesco sobre normas impessoais. Esse traço favorece o patrimonialismo, ou seja, a tendência de tratar cargos e recursos públicos como extensão das relações familiares ou pessoais, dificultando a consolidação de uma administração burocrática e neutra. Para sustentar a ideia, cabe lembrar também a tipologia de Max Weber sobre burocracia — sistema baseado em regras, hierarquia e impessoalidade — que entra em tensão com práticas patrimonialistas.
Por que a alternativa A é correta: A afirmação (dificuldade em constituir um sistema administrativo fundado em princípios objetivos) traduz com precisão o argumento de Holanda: onde predomina a centralidade da família e das relações pessoais, instituições administrativas impessoais (próprias do Estado moderno e da burocracia) tornam‑se frágeis ou precarizadas. Assim, a alternativa A sintetiza a consequência institucional do caráter cordial.
Análise das alternativas incorretas:
- B — “impossibilidade de originar uma economia genuinamente baseada na livre iniciativa”: exagera e desloca o foco. Holanda discute cultura social e institucional, não afirma que a livre iniciativa seria impossível; trata mais da formação política e administrativa.
- C — “contradição entre um sistema jurídico moderno e a herança escravocrata”: embora a escravidão seja tema importante na historiografia brasileira, esse não é o ponto específico do trecho sobre o “homem cordial”.
- D — “origem colonial como empecilho para uma organização política autodeterminada”: a origem colonial é relevante para Raízes do Brasil, mas o trecho citado foca na centralidade da família e suas implicações administrativas, não numa crítica exclusiva à colonialidade política.
- E — “cultura da indolência, que dificulta o desenvolvimento de um mercado de trabalho capitalista”: essa interpretação remete a estereótipos morais (como “preguiça”), não ao argumento analítico de Holanda sobre relações pessoais e impessoalidade administrativa.
Dica de prova: busque sempre o conceito-chave (aqui: “homem cordial” → patrimonialismo) e teste cada alternativa contra ele — elimine opções que mudam o foco (economia, moralidade individual, escravidão) em vez de tratar da organização administrativa.
Fontes: Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil; Max Weber, ensaios sobre burocracia e patrimonialismo.
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