Questão 3448d30e-f6
Prova:UFC 2008
Disciplina:História
Assunto:Período Colonial: produção de riqueza e escravismo, História do Brasil

Podemos compreender corretamente que a sobrevivência da religiosidade dos escravos africanos durante o período colonial esteve relacionada, entre outros fatores:

A
ao fato de a catequese e demais ações católicas visarem somente as populações indígenas.
B
à criação do carnaval pelos negros, pois a festa de cunho popular agregava toda a sociedade.
C
à prática de realizar o culto dos orixás, dando aos seus deuses os nomes dos santos católicos.
D
à expulsão dos jesuítas no período pombalino, o que garantiu a liberdade de culto na colônia.
E
à existência de uma única etnia africana no Brasil, o que permitia a adoção dos mesmos cultos por todos os escravos.

Gabarito comentado

V
Vanessa CamposMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa C

Tema central: Sobrevivência das religiões africanas no Brasil colonial. A questão exige entender como as práticas religiosas africanas se mantiveram apesar da imposição católica e da escravidão — ou seja, entender mecanismos de adaptação, dissimulação e resistência cultural (sincretismo, continuidade ritual, espaços próprios).

Resumo teórico rápido: A religiosidade africana sobreviveu por meio de estratégias que combinaram preservação de elementos tradicionais e adaptação ao contexto colonial. O sincretismo — identificar orixás com santos católicos — permitiu a continuidade de cultos em ambientes onde a prática explícita de crenças africanas era proibida. Além disso havia formação de terreiros, resistência comunitária e manutenção de línguas e músicas. (Ver: Roger Bastide, As Religiões Africanas no Brasil; Reginaldo Prandi, estudos sobre culto afro-brasileiro.)

Por que a alternativa C está correta: A prática de dar aos orixás nomes de santos católicos funcionou como estratégia de camuflagem e de continuidade ritual. Ao associar um orixá a um santo (por exemplo, Iemanjá a Nossa Senhora), os escravos puderam manter rituais e referência a suas divindades dentro de uma aparência cristã, reduzindo a perseguição e garantindo transmissão intergeracional. Esse processo é a essência do sincretismo religioso no Brasil colonial.

Análise das alternativas incorretas:

A: Errada — a catequese não visava "somente" os indígenas; africanos também foram alvo de catequese e da ação missionária, embora com limites práticos. Além disso, a catequese nem sempre eliminou crenças africanas.

B: Errada — o carnaval teve influências africanas e populares, mas sua função social não explica a sobrevivência dos cultos e estruturas religiosas específicas (terreiros, sacerdócio, mitologia).

D: Errada — a expulsão dos jesuítas (1759) alterou a organização da educação e missões, mas não significou liberdade de culto; práticas afro-brasileiras seguiram sujeitas a repressões e discriminações.

E: Errada — havia grande diversidade étnica africana (iorubás, bantos, nagôs etc.), portanto não existiu "uma única etnia" que uniformizasse cultos.

Dica de interpretação: Ao ver expressões como sobrevivência ou continuidade, procure alternativas que indiquem adaptação cultural (sincretismo, dissimulação, criação de espaços próprios). Desconfie de afirmações absolutas (sempre/única/only).

Fontes sugeridas: Roger Bastide, As Religiões Africanas no Brasil; Reginaldo Prandi, estudos sobre religiões afro-brasileiras; João José Reis (sobre escravidão e resistência cultural).

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