Texto I
“Foram cinco anos de Geisel e mais seis de Figueiredo, completando
onze anos de interminável abertura, imune aos reclamos da
sociedade, que, a despeito do vigor da resistência democrática,
não conseguiu abreviar essa longuíssima transição, que culminou
na tremenda frustração do Colégio Eleitoral e da traumática morte
televisionada de Tancredo Neves.”
(FICO, Carlos. Brasil: transição inconclusa. In: FICO, Carlos; ARAÚJO, Maria Paula & GRIN,
Mônica (Orgs.). Violência na história: memória, trauma e reparação. Rio de Janeiro: Ponteio,
2012, p. 31).
Texto II
“Uma concepção de democracia considera que uma sociedade
democrática é aquela em que o povo dispõe de condições de
participar de maneira significativa na condução de seus assuntos
pessoais e na qual os canais de informação são acessíveis e livres.
Outra concepção de democracia é aquela que considera que o povo
deve ser impedido de conduzir seus assuntos pessoais e os canais de
informação devem ser estreitamente controlados.”
(CHOMSKY, Noam. Mídia: propaganda política e manipulação. Tradução Fernando Santos. São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013, p. 9-10)
Da comparação entre os textos I e II depreende-se que, no Brasil, o processo
de redemocratização caracterizou-se por
Gabarito comentado
Gabarito: Alternativa A
Tema central: a natureza da transição do regime militar para a democracia no Brasil (anos 1970–1985) — se foi uma abertura que efetivamente ampliou a participação popular ou se preservou ideias autoritárias sobre o papel do povo.
Resumo teórico: os textos indicam duas perspectivas: Carlos Fico descreve uma “transição inconclusa”, com abertura controlada por elites e frustração do processo eleitoral; Noam Chomsky diferencia uma democracia participativa da versão autoritária em que o povo é impedido e a informação é controlada. Aplicando isso ao contexto brasileiro, observa‑se que a redemocratização foi dirigida por mecanismos controlados (Colégio Eleitoral, anistia ampla) e não por plena democratização participativa.
Justificativa da alternativa correta (A): A afirmação de que o processo “conservou ideias autoritárias sobre a participação popular” sintetiza ambos os textos: a abertura foi lenta e limitada (Fico) e a concepção autoritária de democracia descrita por Chomsky — restrição da participação e do acesso à informação — permaneceu ativa. Historicamente, eleições diretas para presidente não ocorreram imediatamente (eleição indireta de 1985) e mecanismos de poder continuaram a moldar a transição.
Análise das alternativas incorretas:
B (errada) — “inaugurar novos direitos sociais com a vitória das Diretas Já”. As Diretas Já não obtiveram vitória eleitoral direta em 1984; a eleição presidencial de 1985 foi indireta. Ainda que direitos sociais tenham sido ampliados posteriormente (Constituição de 1988), a alternativa apresenta uma relação causal incorreta e imediatista.
C (errada) — “incorporar justas punições aos torturadores abrangidos pela Lei de Anistia”. Pelo contrário: a Lei nº 6.683/1979 (Lei da Anistia) e decisões posteriores impediram a responsabilização ampla de agentes do regime, o que reforça a ideia de transição incompleta.
D (errada) — “estimular práticas cidadãs em decisões relativas aos investimentos públicos”. Não há respaldo nos textos: o processo descrito aponta para restrições à participação e ao acesso à informação, não para expansão de práticas participativas sobre orçamento e investimentos.
Dica de prova: ao comparar textos, identifique as palavras‑chave (ex.: “inconclusa”, “impedido”, “controlados”) e confronte com fatos históricos (Diretas Já, Colégio Eleitoral, Lei da Anistia). Use eliminação lógica: se uma alternativa contradiz os textos ou os eventos, risque‑a.
Fontes: Carlos Fico (análise da transição), Noam Chomsky (conceitos sobre democracia), Lei nº 6.683/1979 (Anistia).
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