Considero-me um realista, mas sou realista não à maneira naturalista — que falseia a vida
— mas à maneira de nossa maravilhosa literatura popular, que transfigura a vida com a imaginação
para ser fiel à vida. [...] O que eu procuro atingir, portanto, é, se não a verdade do mundo, a verdade
de meu mundo, afinal inapreensível em sua totalidade, mas mesmo assim, ou por isso mesmo,
tentador e belo [...] Assim, sem exageros que acabem a ilusão consentida do público, é melhor não
apelar para as muletas do verismo nem esconder as traves da arquitetura teatral — sejam as do
autor, as do encenador ou as dos atores, pois todos nós temos as nossas; assim o público, vendo
que não pretendemos enganá-lo, que não queremos competir com a vida, aceita nossos andaimes
de papel, madeira e cola e pode, graças a essa generosidade, participar de nossa maravilhosa
realidade transfigurada.
SUASSUNA, Ariano. O santo e a porca. 26 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012. p. 16-17.
Sobre o texto acima, da “nota do autor” de O santo e a porca, e a peça em si, é correto
afirmar que
Gabarito comentado
Tema central: A questão aborda o conceito de “ilusão consentida” no teatro e a rejeição ao verismo por Ariano Suassuna em O Santo e a Porca, além de relacionar o posicionamento do autor à estrutura da peça.
Ilusão consentida: É o acordo tácito no teatro pelo qual o público aceita as convenções cênicas, como trocas de figurino ou disfarces, mesmo sabendo que não são “reais”. Suassuna valoriza essa relação, destacando a importância de não “esconder as traves” do teatro: ele assume explicitamente os artifícios, convidando o espectador a participar criativamente da “realidade transfigurada”.
Verismo (ou naturalismo): Refere-se à arte de imitar a vida de modo fiel e objetivo, sem licenças poéticas ou simbólicas. Suassuna se opõe a isso, preferindo a imaginação popular e os elementos simbólicos.
Justificativa da alternativa correta (D):
Suassuna utiliza recursos teatrais típicos, como disfarces e situações cômicas previsíveis ao público, que só funcionam porque existe a “ilusão consentida” – o público aceita não ser enganado quanto à encenação, mas ainda assim se envolve e se diverte. Essa abordagem rompe com o naturalismo/verismo puro e valoriza a participação ativa do espectador.
Esse procedimento é fundamental em O Santo e a Porca, reforçando a ideia de que o teatro pode brincar com o explícito, chamar a atenção para sua própria artificialidade e ainda assim oferecer uma experiência rica.
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta, pois Suassuna critica precisamente o realismo/naturalismo que “falseia a vida” e valoriza a imaginação, não a reprodução literal da realidade sertaneja.
B) Incorreta, porque não há “porca falante” na peça. Os elementos simbólicos são outros, sem recorrer ao fantástico nesse sentido.
C) Incorreta, já que o “sumiço espontâneo da estátua de Santo Antônio” não ocorre na trama – trata-se de dado equivocado ou sem respaldo no texto.
Estratégia para questões semelhantes: Atenção ao conceito de “ilusão consentida”, sempre ligado à aceitação do público diante dos artifícios teatrais. Evite cair em pegadinhas relacionadas a eventos inexistentes ou interpretações errôneas do termo “realista”. Leia o enunciado completo, buscando palavras-chave como “verismo”, “teatro popular” e “disfarce”.
Referência: Manual do Candidato (Cesgranrio) e obras didáticas de literatura, como Literatura Brasileira em Questões (William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães).
Alternativa correta: D
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