“O senhor acredita, então”, insistiu o inquisidor, “que não se saiba qual a melhor lei?” Menocchio respondeu: “Senhor, eu penso que cada um acha que sua fé seja a melhor, mas não se sabe qual é a melhor; mas, porque meu avô, meu pai e os meus são cristãos, eu quero continuar cristão e acreditar que essa seja a melhor fé”.

Carlo Ginzburg. O queijo e os vermes. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987, p. 113.

O texto apresenta o diálogo de um inquisidor com um homem (Menocchio) processado, em 1599, pelo Santo Ofício. A posição de Menocchio indica

Resposta correta: Alternativa A

Tema central: compreensão do contexto da Inquisição e das atitudes populares frente à diversidade religiosa no início da Idade Moderna. É preciso distinguir pluralidade de crenças (percepção de diferentes fés) de posições como crítica institucional, reforma religiosa, ou ateísmo.

Resumo teórico: no pós-Reforma (séculos XVI–XVII) a Igreja Católica, reforçada pelo Concílio de Trento (1545–1563) e pelo Santo Ofício, buscou uniformidade doutrinária; contudo, na prática existia variedade de crenças e interpretações populares. O caso de Menocchio (documentado por Carlo Ginzburg em O queijo e os vermes, 1987) mostra um camponês que reconhece a existência de diferentes crenças e afirma optar pelo cristianismo por tradição familiar — uma postura de percepção pluralista, não de defesa ativa de liberdade religiosa nem de descrença.

Justificativa da alternativa A: Menocchio diz que “cada um acha que sua fé seja a melhor, mas não se sabe qual é a melhor”, reconhecendo explicitamente a existência de várias crenças. A Igreja considerava muitas dessas opções como heréticas, portanto a frase indica percepção da variedade de crenças passíveis de serem consideradas heréticas, o que corresponde ao enunciado da alternativa A.

Análise das alternativas incorretas:

B — incorreta: a fala não é uma crítica à incapacidade da Igreja de eliminar dissidências; é uma constatação epistemológica sobre a diversidade, sem acusação institucional.

C — incorreta: a Igreja não estimulava conhecer outras religiões; promovia uniformidade e repressão de desvios — o Santo Ofício perseguia heresias.

D — incorreta: Menocchio não apoia iniciativas protestantes nem defende “completa liberdade de opção religiosa”; ele escolhe permanecer cristão por tradição.

E — incorreta: a fala não é ateísta — ele afirma sua escolha por ser cristão em função da família.

Dica de resolução: ao analisar enunciados históricos, localize palavras-chave que indicam atitude (ex.: “cada um acha”, “continuar cristão”) e compare com o contexto institucional (Inquisição/Concílio). Cuidado com alternativas que extrapolam a fala para críticas ou programas políticos inexistentes no trecho.

Fontes úteis: Carlo Ginzburg, O queijo e os vermes (1987); documentação sobre o Santo Ofício e o Concílio de Trento.

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