Um escritor saxão, Aelferic, o Gramático, no seu
Colloquium, deixa-nos entrever um pouco da vida
do servo:
— Que dizes tu, lavrador, como fazes o teu
trabalho? — pergunta o professor.
— Eu, senhor, trabalho arduamente. De
madrugada vou levar os bois para o campo e os
atrelo ao arado; por mais rigoroso que seja o
inverno, não me atrevo a ficar em casa, com receio
do meu senhor; e depois de amarrar a relha e a
sega ao arado, tenho de lavrar um acre de terra
ou mais diariamente.— E que fazes mais durante o dia?
— Muita coisa mais: encher os cochos, dar água
aos bois e levar o esterco fora.
— É trabalho pesado?
— É, sim, é pesado porque não sou livre.
(MORTON. In: AQUINO et al., 1980, p. 390).
O papel do servo, na sociedade medieval, descrito no texto,
diferia do papel do homem livre, o vilão, porque este tinha
direito
Gabarito comentado
Resposta correta: E
Tema central: diferença entre servo e vilão na sociedade feudal. É preciso entender noções de servidão, usufruto e obrigações senhoriais.
Resumo teórico: Na Idade Média ocidental, o servo era pessoa não livre sujeita ao senhor: prestava trabalho pessoal (corveia), não podia abandonar a gleba e tinha restrições jurídicas. O vilão (villein) era um tipo de camponês dependente que, apesar de não ser totalmente livre, possuía uma parcela de uso da terra (tenure/usufruto) e podia cultivar para seu sustento — ficando com parte da produção — desde que cumprisse obrigações ao senhor (trabalho, taxas, multas). Fontes clássicas: Marc Bloch, A Sociedade Feudal; F.L. Ganshof, Feudalism.
Justificativa da alternativa E: A alternativa E afirma que o vilão tinha "liberdade de trabalhar na terra para seu próprio benefício, pagando apenas algumas obrigações". Isto sintetiza corretamente a ideia de que o vilão desfrutava do direito de explorar parcelas para sua subsistência e de reter parte da produção, respeitando as obrigações senhoriais (corveias, rendas). Portanto é a alternativa correta.
Análise das alternativas incorretas:
A — ingresso nas categorias da cavalaria: incorreto. A cavalaria era privilégio de nobres ou homens livres com recursos; vilões raramente ascenderiam à condição de cavaleiros.
B — propriedade da terra dentro do feudo: errado. Vilões tinham posse de uso (tenure), não propriedade plena. Pagavam corveias e obedeciam ao senhor.
C — ascender aos altos escalões da Igreja: impreciso. A Igreja recrutava indivíduos de origens variadas, mas altos cargos exigiam formação e status que, em geral, excluíam camponeses dependentes.
D — posse do produto para comerciá‑lo livremente fora do feudo: parcial/enganosa. O vilão podia vender excedentes, mas não gozava de liberdade comercial irrestrita; sua produção estava sujeita a controles e obrigações.
Estratégia para provas: ao ver "tinha direito" compare sempre a expressão com os conceitos de liberdade plena versus dependência senhorial. Elimine alternativas que impliquem plena propriedade, mobilidade social ampla ou privilégios nobres.
Fontes recomendadas: Marc Bloch, A Sociedade Feudal; F. L. Ganshof, Feudalism.
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