“No cruzamento do material e do simbólico o corpo fornece ao historiador da cultura medieval um lugar de observação privilegiado neste mundo em que os gestos litúrgicos e o ascetismo, a força física e o aspecto corporal, a comunicação oral e a lenta valorização do trabalho contavam tanto, era importante conferir valor, além do escrito, à palavra e gestos.” (Le Goff, A civilização do Ocidente, 2005, p. 14)

Considerando a mentalidade do ocidente medieval, é correto afirmar:

Resposta correta: Alternativa C

Tema central: A questão trata da mentalidade medieval sobre o corpo: conflito entre o ideal cristão (desvalorização do corpo e ênfase na alma, ascetismo) e a cultura guerreira (exaltação da força física, caça, torneios). Compreender esse contraste é essencial em História Geral para interpretar práticas sociais e simbólicas na Idade Média (Le Goff; Duby).

Resumo teórico: No Ocidente medieval coexistiam valores aparentemente opostos. A ética cristã privilegiava a humildade, a castidade e o combate às paixões corporais; já a ideologia feudal-cavaleiresca valorizava a coragem, habilidade militar e atividades corporais públicas (caça, torneios). Assim, para muitos autores (Jacques Le Goff; Georges Duby), o cavaleiro era um modelo de exaltação corporal dentro de estruturas sociais que, simultaneamente, pregavam moderação e controle dos desejos.

Justificativa da alternativa C: A frase afirma que o ideal cristão rebaixava o corpo enquanto o ideal guerreiro o exaltava, e que a vida do cavaleiro é exaltação física — condiz com as interpretações historiográficas: a cavaleria promovia práticas corporais intensas (guerra, torneios, caça) como forma de afirmação social e honra, em contraste com a moral ascética cristã (Le Goff, A Civilização do Ocidente).

Análise das alternativas incorretas:

A — Falsa. As regras monásticas (Regra de São Bento) recomendavam higiene e moderação, mas não estimulavam banho “ao máximo”; o banho podia ser tolerado em contextos de saúde ou para higiene ritual, mas luxo e vaidade eram condenados.

B — Falsa. A Igreja não proibiu toda técnica de embalsamamento; práticas de conservação de corpos existiram, sobretudo em contextos de veneração de relíquias e enterros de elites. A ideia de que o corpo era apenas “lepra” é exagerada.

D — Falsa. A moral cristã não estimulava prazeres carnais; ao contrário, enfatizava a castidade e via o sexo como permitido principalmente para procriação dentro do matrimônio, com suspeita frente à busca de prazer.

E — Falsa. Casas de banho existiam nas cidades medievais; foram alvo de críticas e, em alguns períodos, fechadas ou reguladas por suspeita de libertinagem, mas não inexistiam por princípio.

Dica de prova: Procure palavras-chave que indiquem conflito de valores (“rebaixava” x “exaltava”), identifique termos absolutos (“toda e qualquer”, “não existia”) — geralmente são armadilhas. Associe enunciado a autores e fontes (Le Goff, Regra de São Bento, estudos sobre cavalaria) para afirmar com segurança.

Fontes sugeridas: Jacques Le Goff, A Civilização do Ocidente; Regra de São Bento; Georges Duby, obras sobre cavaleiros e cavalaria.

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