Em Auto da barca do inferno (1516), de Gil Vicente, o “Judeu” é o único
personagem que solicita entrar no batel infernal, mas mesmo assim sua alma
é preterida pelo “Diabo”. Este se recusa a embarcar o bode que o “Judeu” traz
consigo e indica-lhe o batel do “Anjo”. O “Judeu”, contudo, não consegue dirigir
a palavra ao “Anjo”, e acaba indo a reboque no barco do “Diabo”, que, com estas
palavras, aceita-o: “Vós, Judeu, ireis à toa, que sois mui ruim pessoa”. O mau juízo
que a obra faz dos judeus tem origem em uma conjuntura histórica particular,
vigente no final do século XV e início do século XVI. Assinale a alternativa que
explicita essa conjuntura:
Gabarito comentado
Resposta correta: C
Tema central: A questão trata da hostilidade literária aos judeus em obras do início do século XVI, que reflete uma conjuntura histórica: a expulsão e a conversão forçada de judeus na Península Ibérica e a proibição pública do judaísmo.
Resumo teórico conciso: Em 1492 os Reis Católicos promulgaram o Alhambra Decree (deleção/expulsão dos judeus da Espanha). Muitos refugiados chegaram a Portugal, onde, em 1497, o rei Manuel I determinou a conversão forçada dos judeus (muitos tornaram‑se "cristãos‑novos"). A partir daí cresceu a desconfiança, denúncias e, depois, a criação da Inquisição portuguesa (1536), que perseguiu conversos suspeitos. Esses eventos explicam os estereótipos negativos presentes em Gil Vicente (c.1516).
Fontes essenciais (sintético): Alhambra Decree (1492); medidas de 1497 em Portugal ordenadas por Manuel I; criação da Inquisição Portuguesa (1536). Consultar obras de história sobre os judeus ibéricos e compêndios como Encyclopedia Britannica ou estudos sobre a Inquisição para aprofundar.
Por que a alternativa C está correta: Ela sintetiza corretamente a conjuntura: proibição pública do judaísmo na Península, seguida de expulsões (Espanha, 1492) e conversões obrigatórias (Portugal, 1497). Esse quadro explica a representação pejorativa dos judeus em textos portugueses do começo do século XVI.
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta — mistura fatos verdadeiros (conversões/expulsões) com uma causa inventada: a Casa de Bragança não foi responsável por essa política nem tinha como objetivo "dominar a Espanha".
B) Incorreta — a Reconquista portuguesa terminou séculos antes; não há evento relevante no fim do séc. XIV vinculado à deserção judaica e ao uso de mercenários.
D) Incorreta — atribui a proibição em Portugal a Fernando e Isabel em 1492; o decreto de 1492 foi espanhol. Portugal teve sua própria política (1497) sob Manuel I.
E) Incorreta — reduz a perseguição a um complô da burguesia para tomar rotas comerciais: ideologias religiosas e decisões reais tiveram papel central; a explicação econômica isolada é simplista e imprecisa.
Dica de prova: Procure sempre o agente histórico correto (rei, decreto, país) e as datas — confusões entre Espanha/Portugal e anos (1492 vs 1497) são recorrentes em pegadinhas.
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