Questão 1014f378-36
Prova:UNESP 2010
Disciplina:História
Assunto:Medievalidade Europeia, História Geral

[Na Idade Média], chamava-se ‘lepra’ a muitas doenças. Toda erupção pustulenta, a escarlatina, por exemplo, qualquer afec- ção cutânea passava por lepra. Ora, havia, com relação à lepra, um terror sagrado: os homens daquele tempo estavam persuadidos de que no corpo reflete-se a podridão da alma. O leproso era, só por sua aparência corporal, um pecador. Desagradara a Deus e seu pecado purgava através dos poros.


(Georges Duby. Ano 1000 Ano 2000. Na pista de nossos medos.

São Paulo: Unesp, 1998.)


O texto mostra a associação entre doença e religião na Idade Média. Isso ocorre porque os homens do período

A
abandonaram o conhecimento científico, acumulado na Antiguidade, sobre saúde e doença; daí a época medieval ser apropriadamente chamada de “era das trevas”.
B
recusavam-se a admitir que as condições de higiene então existentes fossem inadequadas e preferiam criar explicações astrológicas para os males que os afligiam.
C
estigmatizavam os portadores de doenças e os isolavam, ao contrário do que ocorre hoje, quando todos os doentes são aceitos no convívio social e recebem tratamento adequado.
D
eram marcados pelo imaginário cristão, que apresentava o mundo como um espaço de conflito ininterrupto entre forças divinas e forças demoníacas.
E
rejeitavam a medicina, pois a associavam a práticas mágicas e a curandeirismo, preferindo recorrer a exorcistas a aceitar os tratamentos prescritos nos hospitais.

Gabarito comentado

G
Gabrielle FrancoMonitor do Qconcursos

Resposta: Alternativa D

Tema central: o enunciado trata da relação entre doença e religião na Idade Média — como o imaginário cristão interpretava males físicos como sinal de culpa moral ou punição divina.

Resumo teórico: Na Europa medieval, a Igreja orientava a visão do mundo: doenças podiam ser entendidas como prova do pecado, castigo divino ou ação demoníaca. Essa interpretação fazia parte de um quadro simbólico em que o corpo refletia o estado da alma. Fontes e historiadores clássicos (por exemplo, Georges Duby) destacam esse vínculo entre religiosidade, moralidade e explicações para a enfermidade.

Justificativa da alternativa D: A frase do texto — “terror sagrado”, “no corpo reflete-se a podridão da alma” — aponta diretamente para um universo mental marcado pela visão cristã do conflito entre forças divinas e demoníacas. Assim, a alternativa D descreve corretamente o fator cultural-religioso que explica a associação entre doença e pecado na Idade Média.

Análise das incorretas:

A — Incorreta. Afirmar que a Antiguidade foi totalmente abandonada e que a Idade Média é necessariamente uma “era das trevas” é simplista e ideologicamente carregado. Havia continuidade de saberes (monastérios, traduções árabes) e avanços médicos locais.

B — Incorreta. A astrologia e explicações diversas coexistiam, mas a alternativa atribui uma recusa generalizada em admitir más condições de higiene, o que não responde ao cerne do texto (o aspecto religioso e moral do medo da lepra).

C — Parcialmente verdadeira em um ponto (havia estigmatização e isolamento de leprosos), mas está formulada de modo absoluto e comparativo errado: hoje também existem estigmas e desigualdades no tratamento; além disso, o texto explica a razão religiosa do estigma, não faz uma comparação direta com a contemporaneidade.

E — Incorreta. A medicina não foi completamente rejeitada; práticas religiosas (exorcismos) coexistiam com cuidados médicos, hospitais monásticos e saberes médicos herdados da Antiguidade e do mundo islâmico.

Dica de prova: Foque em palavras-chave do enunciado (“terror sagrado”, “podridão da alma”, “só por sua aparência”), que sinalizam interpretação religiosa/moral. Desconfie de alternativas absolutas ou anacrônicas (“era das trevas”, “todos os doentes são aceitos hoje”).

Fonte sugerida: Georges Duby, Ano 1000 Ano 2000; leituras complementares sobre mentalidades medievais e história da medicina.

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