A História, segundo o historiador Marc Bloch, pode ser definida como a ciência do homem no
tempo. Quando estudada em instituições escolares, ela é, comumente, dividida em: Idade
Antiga, Idade Medieval, Idade Moderna e Idade Contemporânea.
Sobre este modelo de organização do tempo histórico em períodos ou idades, analise as
proposições.
I. O modelo acima foi instituído na Grécia durante o século IV a.C. por Aristóteles que, na
época, assumia as funções de tutor de Alexandre da Macedônia.II. A adoção deste modelo demonstra o forte vínculo existente entre os programas escolares
de história e a tradição europeia, na medida em que as idades são organizadas a partir de
processos ocorridos majoritariamente no Continente Europeu.
III. O modelo citado foi desenvolvido e institucionalizado em 1837, pelo Instituto Histórico
Geográfico Brasileiro, e refere-se, exclusivamente, aos processos ocorridos a partir do
Descobrimento do Brasil, em 1500.
Assinale a alternativa correta.
Gabarito comentado
Alternativa correta: E — Somente a afirmativa II é verdadeira
Tema central: trata-se de periodização histórica — a divisão do tempo em Idade Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea — e de sua origem e uso nos programas escolares. Para resolver, é preciso distinguir entre origem real das categorias e usos posteriores (especialmente seu caráter eurocêntrico).
Resumo teórico: a periodização em “idades” não nasce na Grécia antiga. A ideia de “Idade Média” e a divisão tripartida/quadripartida consolidou‑se entre humanistas e historiadores europeus da Idade Moderna (renascentistas e posteriores). Petrarca (século XIV) contribuiu para a noção de “idade das trevas”; a sistematização escolar vem da tradição historiográfica europeia. Marc Bloch é referência para a definição da História como “ciência do homem no tempo” (ver: Marc Bloch, The Historian’s Craft).
Por que a afirmativa II é verdadeira: os nomes e os marcos (queda do Império Romano, Renascimento, Reforma, Revoluções modernas) refletem processos centrais na história europeia. Os currículos escolares herdaram essa estrutura; portanto, a periodização é, em grande parte, eurocêntrica — organiza o tempo a partir de acontecimentos ocorridos majoritariamente na Europa.
Por que I está errada: atribui a Aristóteles (séc. IV a.C.) a criação do modelo — incorreto. Aristóteles não concebeu a divisão em Idade Antiga/Medieval/Moderna/Contemporânea; essa divisão surgiu muito depois, na historiografia europeia medieval/renascentista e moderna.
Por que III está errada: afirma que o modelo foi criado e institucionalizado em 1837 pelo Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e que se refere só ao período pós‑1500. É falso em dois níveis: (1) a periodização já existia na tradição europeia antes do século XIX; (2) o modelo não se refere exclusivamente à história brasileira a partir de 1500. Ademais, a data e a atribuição são imprecisas.
Dica de interpretação para concursos: desconfie de afirmações absolutas (ex.: “exclusivamente”, “instituído por X em data Y”) e verifique se a frase conflita com a cronologia conhecida da historiografia. Pergunte: a ideia originou‑se naquele tempo e lugar ou foi construída depois?
Fontes sugeridas: Marc Bloch, The Historian’s Craft; estudos de historiografia sobre Petrarca e a formação da noção de “Idade Média”; manuais de História Geral e textos sobre eurocentrismo na periodização.
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